Tutinha na Playboy em 2006 - I

Procurando material para um trabalho que eu tenho que fazer, encontrei uma entrevista feita com o Tutinha publicada há três anos na Playboy, reproduzida no site da CMI Brasil. Não tinha lido até então, e repasso para quem também não leu (e até para quem leu).

Por enquanto fica só o texto da entrevista (que é bem grande, mas vale a pena ler inteiro). Quando tiver mais tempo quero comentar algumas coisas.

TUTINHA
Por Adriana Negreiros

O dono do Pânico é um homem de difícil trato. E uma máquina de fazer dinheiro. Proprietário da rádio Jovem Pan, de um portal de internet, de uma empresa de telefonia e de vários outros negócios (incluindo uma pequena gravadora, a Bacana Records, e a Rádio Daslu, que toca na loja de madames), Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, ou simplesmente Tutinha Amaral, é um sujeito durão, insone e hipocondríaco. Do tipo que vai à farmácia e pergunta quais as novidades do mercado. Ou que, ao deparar com uma funcionária que aparente estar tranqüila, solicita a ela que elabore, em meia hora, um relatório com todas as suas atividades e resultados obtidos. Não é à toa que ele inspirou um ex-funcionário, o comediante Felipe Xavier, a criar o Dr. Pimpolho, personagem que encarna o estereótipo do chefe irritado, mal-educado e explorador - apresentado diariamente na Rádio Mix, concorrente de Tutinha.

Os desafetos não são novidade na vida deste paulistano que não tem papas na língua. O curioso é que quase ninguém fala mal dele publicamente. "Sou o homem mais temido da indústria fonográfica nacional", afirma. Faz sentido. Aos 20 anos, em 1976, quando foi para a Jovem Pan, Tutinha adotou o conceito de FM falada e acabou com o marasmo da programação de sala de espera de dentista. Sua rádio foi responsável pelo lançamento de boa parte das bandas de rock dos anos 80. Hoje ela tem 50 afiliadas no Brasil inteiro e influencia inúmeras rádios pequenas no interior. Junto com as rádios Mix, Transamérica e 89, domina o segmento que mais forma opinião - os jovens das classes A e B. Ou seja, influi decisivamente no que "pega" no mundo da música. Por isso é tão escandalosa a crítica mais recorrente a Tutinha: de que ele cobra jabá (presentes, dinheiro ou vantagens) para que artistas toquem em sua rádio. Ele não nega, embora não goste do termo - prefere falar que é um "acordo comercial". Sem constrangimento, Tutinha diz ter ganhado 1 milhão de dólares por ter lançado a cantora colombiana Shakira no Brasil. Também afirma ter conhecido vários países graças aos pacotes pagos pelas gravadoras de artistas internacionais. Nesta entrevista, ele revela candidamente seu método de escolha dos músicos que tocam na Jovem Pan: "Recebo 30 artistas novos por dia na rádio. Seleciono dez, vou à gravadora e, para aquela que me dá alguma vantagem, eu dou preferência". Além de músicos, Tutinha lançou apresentadores. Luciano Huck começou na Jovem Pan. Adriane Galisteu fez sucesso por lá antes de ir para a televisão. Emílio Surita iniciou sua carreira ao lado de Tutinha, e com ele criou o programa Pânico, inspirado nos talk shows do radialista americano Howard Stern. A lógica: metralhadora giratória que não poupa ninguém, desde o ouvinte até a celebridade mais badalada. A fórmula deu certo. O programa foi campeão de audiência e Tutinha resolveu levá-lo para a televisão. Bateu na porta da Gazeta, do SBT, da Bandeirantes, até que conseguiu um patrocínio da operadora de telefonia Vivo e emplacou na Rede TV!. O programa fez sucesso e foi cobiçado por Silvio Santos. As negociações com o SBT não prosperaram, mas o contrato com a Rede TV! termina em 2007. Tutinha pensa em montar sua própria rede. "Aos poucos, estou colocando o pezinho na televisão", revela. Seria uma espécie de volta à infância. Ele praticamente nasceu dentro de uma emissora. Seu avô, Paulo Machado de Carvalho, foi dono da TV Record. O pai, Tuta, era diretor da rede no auge dos festivais da canção. Ainda criança, assistiu de camarote aos primeiros acordes da turma da Jovem Guarda. Suas lembranças são as de um típico filhinho de papai. Levava os amigos da escola para assistir a Perdidos no Espaço no cineminha da Record. Fazia travessuras com as estrelas da casa e, quando confrontado, lembrava a elas que era o neto do patrão. Ele afirma que aos 14 anos já bebia, fumava, jogava sinuca e, mais importante, transava com as bailarinas da emissora. Aos 15, dirigia um programa infantil e ensaiava suas primeiras incursões pelo besteirol. Tutinha recebeu a repórter Adriana Negreiros para duas sessões de entrevista no escritório da Jovem Pan, na avenida Paulista, em São Paulo. Perto de completar 50 anos, em março, em seu quarto casamento (com três filhos), ele é um vaidoso assumido: na sessão de fotos para PLAYBOY, sua maior preocupação era esconder a barriga. Também é um workaholic assumido. No dia da entrevista, contou que chegara ao escritório às 5 da manhã. Na falta do que fazer, jogou paciência. Agitado, bebeu café, brincou com o celular e despachou, sem muita conversa, uma funcionária que insistia em interromper a entrevista. Ao fim da segunda sessão, recebeu um afago da mulher, Flávia Eluf, retribuído com um forte abraço e um tapinha de leve no bumbum. "Não sou nada do que dizem", defendeu-se. "Sou um puta louco, adoro falar merda." E comprova: "Você sabia que eu já comi dez capas da PLAYBOY? O duro foi engolir os grampos".


PLAYBOY> Você é um dos homens mais temidos da indústria fonográfica do Brasil. Por quê?
TUTINHA> Sou o mais temido, lógico. Sou assim mesmo. Se não tocar na minha rádio, a Jovem Pan, o artista não estoura. E não sou bonzinho. Se a música é ruim, digo para o artista: "Não vou tocar, seu disco é uma porcaria. Tchau e não me amola".

PLAYBOY> Muita gente dizque você é jabazeiro [que cobra jabá].
TUTINHA> Me chamem do que quiser. Na minha rádio tem nota fiscal, tô pouco me danando. O cara para entrar no Fantástico também paga. Jabá é quando você faz ilegalmente na empresa. O que eu faço são acordos comerciais.

PLAYBOY> Que tipo de acordo?
TUTINHA> Por exemplo: hoje chegam 30 artistas novos por dia na rádio. Por que eu vou tocar? Eu seleciono dez, mas não tenho espaço para tocar os dez. Aí eu vou nas gravadoras e para aquela que me dá alguma vantagem eu dou preferência.

PLAYBOY> Que vantagem?
TUTINHA> Se você tem um produto novo, você paga pra lançar. Era isso o que eu fazia. Eu tocava, mas queria alguma coisa. Promoção, dinheiro. Ah, bota aí 100 mil reais de anúncio na rádio. Me dá um carro pra sortear para o ouvinte. Mas hoje não tem mais isso. As gravadoras não têm mais dinheiro. O que pode existir é o empresário fazer acordo. Ah, toca aí meu artista e eu te dou três shows. Ou uma porcentagem da venda dos discos.

PLAYBOY> Isso não é jabá?
TUTINHA> Não. Na Jovem Pan nunca teve jabá. Antigamente as rádios tinham. Quando eu comecei a trabalhar, até me assustava. A Rádio Record ficava junto com a Jovem Pan. Na época, chegava o cara da gravadora e dava dinheiro, walkman, relógio para o radialista. Quando eu entrei, eu pegava essas coisas para a Jovem Pan. Nas outras rádios, os donos não estavam. Eu não tinha interesse em roubar a Jovem Pan. Queria fazer negócio. Antes o rádio era muito amador. Então a gravadora dava uma coisa pro cara, dava mulher.

PLAYBOY> Mulher?
TUTINHA> É, mandava o cara pro puteiro. As gravadoras faziam qualquer coisa pra tocar a música.

PLAYBOY> Alguma artista já tentou fazer sexo com você em troca de tocar a música na rádio?
TUTINHA> Já, mas não vou falar quem foi. Eu estava na minha sala, entrou uma mulher com um vestido, tirou o vestido e disse: "Se você tocar minha música..."

PLAYBOY> E a mulher estourou?
TUTINHA> Não, porque não tocou na Jovem Pan. E eu não a comi.

PLAYBOY> Era bonita?
TUTINHA> Meia-boca. Eu até falei: "Você tem um belo corpo, mas sua música é muito ruim".

PLAYBOY> As gravadoras já te ofereceram absurdos?
TUTINHA > Ah, tudo o que você pode imaginar.

PLAYBOY> Um harém?
TUTINHA> Não, isso não. O que eles faziam era me levar para conhecer os artistas. Mas eu não me vendia por isso. Eles lançavam o novo disco da Gloria Estefan e me convidavam assim: primeira classe, carro com motorista, backstage do show em Amsterdã, junto com o presidente da Sony. Depois um jantar fechado com a Gloria Estefan. E o cara achava que eu tinha que tocar porque tinha tido essa moleza, né?

PLAYBOY> E tocava?
TUTINHA> Às vezes sim, às vezes não. Mas eu fiz muitas viagens assim. Conheci quase tudo. Fiz coisas incríveis. Por exemplo, fui ver o Michael Jackson, sentei na mesa com ele.

PLAYBOY> Você bateu papo com o Michael Jackson?
TUTINHA> Ah, aquela coisa de hello, né? Tinha 8 mil negos lá. Era "my name's Michael, my name's Tuta". E ele me deu aquela mão gigante, branca! Eu tinha muita mordomia. Era assim: "Quer ver o U2? Vamos. E depois a gente vai jantar com o U2". Sempre eles fazem isso. Depois do show, fecham um andar do hotel, convidam rádios de vários lugares do mundo e fazem um lobby. O artista vai lá, fala oi pra todo mundo, a gravadora distribui brindes. As gravadoras tinham dinheiro e eu acho isso bacana, profissional.

PLAYBOY> Como eram essas festas com os artistas?
TUTINHA> Teve uma festa do Julio Iglesias na casa dele, na República Dominicana, cheia de mulheres.

PLAYBOY> Rolava sacanagem?
TUTINHA> Nessa não rolou. Mas às vezes contratavam putas para os radialistas. Já tive propostas desse tipo, mas não aceitei. Não gostava disso. Gostava de primeira classe, hotel campeão, o bem-bom. Já vi tantos shows que hoje não agüento mais ver um. E depois eu tive uma empresa de shows, aproveitando que eu tinha a rádio.

PLAYBOY> Quais artistas a Jovem Pan estourou?
TUTINHA> Tudo. Qualquer coisa que você pensar foi a Jovem Pan que lançou. Madonna, Lulu Santos, Titãs. A Jovem Pan fez a história da FM. Se não tocar na Jovem Pan, tá frito. A Jovem Pan tem o poder de formadora de opinião no Brasil inteiro. É uma referência para as rádios do interior.

PLAYBOY> Lançou as bandas de sucesso da década de 80, como Kid Abelha, Capital Inicial, Ira!?
TUTINHA> O Ira! não. Um ou outro não lançamos. Eu dei uma pisada grande na bola com a Blitz. Quando ouvi a música, falei: "Não vou tocar essa porcaria nem morto". E logo depois era a música mais tocada no Brasil inteiro. Mas em compensação eu acertei os Mamonas Assassinas, que ninguém tocava. Não dá pra acertar sempre. Eu também me ferrei com o Renato Russo.

PLAYBOY> Por quê?
TUTINHA> Numa época a gente fazia o artista cantar "Jovem Pan" no meio da melodia. Então vinha o Caetano Veloso, tinha uma música nova, e cantava "Jovem Pan" no ritmo da música. E uma vez veio o Renato Russo e disse: "Minha música é uma obra-prima e eu não vou falar 'Jovem Pan'". Eu falei: "É mesmo? Então vai pro inferno, vai tocar essa música lá na Transamérica". Eu quase bati nele.

PLAYBOY> E não tocou mesmo?
TUTINHA> Tive que tocar, a música foi um sucesso. E depois eu fiz um show do Legião Urbana no estádio do Palmeiras, em São Paulo. Ganhei tanto dinheiro que saí com a caixa igual à da Igreja Universal, cheia de dinheiro. Outro com quem eu fui malcriado foi com o Zé Ramalho. Ele disse que não ia cantar "Jovem Pan" e eu mandei ele pro inferno. Ele perguntou: "Quem é esse moleque?". Disseram que eu era o dono. Ele veio com um "não, peraí". E eu disse: "Peraí não, some daqui".

PLAYBOY> Com quem mais você brigou?
TUTINHA> Com o Roger, do Ultraje a Rigor. A Jovem Pan foi a primeira a tocar aquela música deles, "quem quer dinheiro, índio quer dinheiro", uma coisa assim. E eu combinei com o empresário de me dar três shows. Muito bem, você quer tocar o Roger? Eu quero três shows de graça e vou fazer promoção para a Jovem Pan. Pois ele estourou e não me deu os shows.

PLAYBOY> O que você fez?
TUTINHA> Parei de tocar. Aí o Roger foi pro Rock in Rio e cantava: "Tutinha, filho-da-puta, Tutinha, jabazeiro". No Maracanãzinho, no meio do show! Aí eu o processei, fomos para o tribunal e ele me pediu desculpas, falou que não teve a intenção. Mas eu nunca mais toquei. Só agora, 20 anos depois, depois que o Ultraje a Rigor praticamente acabou, fiquei com pena e deixei ele tocar.

PLAYBOY> Você tinha um contrato com o empresário do Ultraje?
TUTINHA> Como eu sabia que o artista precisava tocar na Jovem Pan, não fazia contrato. Era uma coisa de boca. Eu vou tocar o seu artista, você me dá o show e tchau. É assim com o Haroldo, empresário do Capital Inicial. Eu toco, quando eu preciso ele me ajuda, quando ele precisa eu dou comercial de graça, se eu preciso de um show, ele me dá. Mas também não fico abusando, não vou pedir dez shows. Hoje a gente tem um relacionamento ótimo com os empresários. Olha, você vai me dar um show da Pitty para um evento da carteirinha de estudante Jovem Pan e eu ajudo na música nova. É assim. Beleza, nada em contrato, tudo na boca.

PLAYBOY> Além da Blitz, que outro erro de avaliação você cometeu?
TUTINHA> A Shakira. Existe uma dificuldade para se tocar música em espanhol no Brasil. Não temos essa tradição. Aí a gravadora falou assim: "Te dou 1 dólar por disco se você tocar a Shakira". Eu falei: "Não vou tocar essa porra". Peguei o disco e joguei em casa. Depois de uma semana eu voltei e ouvi minha filha assim, cantando: "Estoy aquí, queriéndote". Voltei na gravadora e falei: "Aceito o acordo".

PLAYBOY> Deu certo?
TUTINHA> A Shakira vendeu 1 milhão de discos e fizemos 70 shows lotados. Mas ela não era nada. Eu dei um jantar na minha casa para a Shakira e ninguém queria ir. Convidei o Rogério Fasano, o Luciano Huck, ninguém queria ir.

PLAYBOY> E com a Pitty, qual foi a história?A Jovem Pan não quis tocar...
TUTINHA> Porque a gravadora não quis fazer negócio. E com uma música nova a gente tenta fazer algum tipo de promoção, pegar prêmio, pegar coisa para o ouvinte. Eles disseram não e a gente não tocava. Mas ela estourou tanto que tivemos que tocar. Tem horas que a gente tem que dar o braço a torcer. Também não sou birrento. Não vou atrapalhar a Jovem Pan por vaidade.

PLAYBOY> Qual é o segredo do sucesso do Pânico na TV?
TUTINHA> É falar merda. É fazer coisas das quais os outros tenham vergonha. Todo mundo é comprometido, politicamente correto. As TVs são todas amarradas.

PLAYBOY> Você tem alguma participação no que a turma do Pânico na TV ganha em publicidade?
TUTINHA> Eu sou o dono do Pânico. Então eu ganho. O registro é meu. Fui eu que inventei, botei na rádio, fui lutar pra levar pra televisão, fiquei batendo de porta em porta, arrumei o primeiro comercial, dei a idéia. Depois que o programa explodiu, falei: "Não é justo que eu fique ganhando sozinho". Então a gente é meio que uma sociedade em que todo mundo ganha. Todo mundo tem uma participação na renda do programa.

PLAYBOY> Quanto eles ganham?
TUTINHA> Ah, não vou dizer. A Jovem Pan paga o salário deles de rádio e a Rede TV!, de televisão. Mas estão ricos. Ganham 50 vezes mais do que ganhavam um ano atrás. E foi a Jovem Pan que deu essa oportunidade para eles, entendeu?

PLAYBOY> Quanto é 50 vezes mais para o Ceará e o Vesgo, por exemplo?
TUTINHA> Acho que eles ganham uns 200 mil reais por mês, cada um, entre salário, shows e eventos. No paralelo, quem ganha mais é o Emílio, porque é sócio do Pânico. Ele também ganha 20% de cada merchandising.

PLAYBOY> Como vocês escolhem quem vai fazer merchandising no programa?
TUTINHA> O critério é: pagou, levou. Mas a gente aumentou o preço e isso foi selecionando.

PLAYBOY> Como o pessoal do Pânico está lidando com a fama?
TUTINHA> Eles estão deslumbrados. São celebridades, não têm como evitar. Agora nós alugamos um navio e em uma semana vendemos os 250 lugares.

PLAYBOY> O sucesso subiu à cabeça deles?
TUTINHA> Subiu, mas é lógico que sobe. Veja o Mendigo. Era um órfão da Liga das Senhoras Católicas. A minha mãe deu emprego de office-boy pra ele. Todo ano ela dava emprego pra dois órfãos na rádio. Pois o Mendigo agora tem uma BMW e comia a Sabrina. Eu tenho que admirar um cara desses. O cara veio do zero e agora ganha 80 paus por mês. Como é que não vai ficar deslumbrado? Eu acho até que dentro do deslumbre todo eles são pé-no-chão. Mas ficam deslumbrados, óbvio.

PLAYBOY> Todos ficaram assim?
TUTINHA> Menos o Emílio. O Emílio é low profile, mão-de-vaca. Não vai a restaurante, não compra nada. Esse vai ficar milionário.

PLAYBOY> Você é que tem fama de mão-de-vaca.
TUTINHA> Eu sou administrador. Não gosto de jogar dinheiro no lixo. Eu sou da escola de meu pai: não seguro celebridade. O Osmar Santos era o melhor locutor da rádio. Vamos dizer, ganhava 50 mil reais. Vinha aqui a Globo, pagava 100, ele deixava ir embora. Eu sou assim.

PLAYBOY> Você está no quarto casamento. Por que casou tanto?
TUTINHA> Não é o quarto, agora eu estou só namorando. Se bem que a gente mora na mesma casa. Então é casamento, né? Eu casei várias vezes e tive várias namoradas. Eu sempre tenho alguém. Mas não fico num casamento destruído. Pago o que tenho que pagar, arrumo outra e vou ficar com ela.

PLAYBOY> Você completa 50 anos em 2006.
TUTINHA> É, que merda, né? Uma bosta isso. Se bem que agora eu estou Glauco [personagem de Edson Celullari em América]. A Flávia tem 36 anos e está me transformando no Glauco. Agora conheço a marca Doc Dog, estou usando mais jeans e tênis. Estou até me sentindo mais moço.

PLAYBOY> E essa mancha que você tem na testa, o que é?
TUTINHA> É um sinal de nascença. Mas eu odeio essa mancha, porque aonde vou as pessoas me perguntam se eu bati a cabeça na parede. Principalmente criança. Eu sempre digo que uma pomba passou e cagou na minha cabeça.

PLAYBOY> Tem alguma complicação?
TUTINHA> Ela tem um tipo de raiz e eu tive dor de cabeça. Fiz uma tomografia e foi verificado um tumor, mas não maligno. Aí eu fui pra Boston, operei, o cara falou que eu devo ter nascido com isso e ficou por isso mesmo. Não tirou. Só fez radioterapia pra não crescer.

PLAYBOY> Uma das histórias a seu respeito é a de que você é durão e estressado. Você já demitiu muita gente?
TUTINHA> Já, muita gente. Teve uma pessoa que ficava aqui na rádio e eu sempre perguntava a que horas ele chegava. E ele nunca chegava na hora. Então resolvi mandar ele embora. Eu disse: "Você está despedido!" E ele: "Mas eu sou ouvinte". O cara não chegava um dia na hora, eu achava que era da promoção. Era um moleque folgado pra cacete, sentava na mesa.

PLAYBOY> Você é o Dr. Pimpolho, o personagem criado pelo Felipe Xavier?
TUTINHA> O Felipe Xavier é uma pessoa muito difícil, complicada. Tudo era advogado, um saco. Aí fiz a besteira de dar um programa pra ele às 6 horas [Selig, um programa de notícias]. O programa era horrível, uma porcaria. Eu tirei e ele ficou com raiva. Aí ele saiu e brigou porque eu tinha um contrato que era assim: quando ele saísse da Jovem Pan, o Homem Cueca não podia ser feito em outro lugar durante um ano. O que é normal, já que o programa estourou aqui. Ele ficou com raiva e fez o Dr. Pimpolho. Às vezes eu escuto e até acho parecido, às vezes, não.

PLAYBOY> Você foi tomar satisfações com ele?
TUTINHA> Não, tô pouco me lixando. Até gosto. Hoje em dia o Felipe é um zero à esquerda. É um burro, porque fechou a porta da maior rádio do Brasil. Onde ele vai trabalhar, me fala?

PLAYBOY> Você tem medo de perder sua equipe para outra emissora?
TUTINHA> Não tenho medo. Porque o bom é o Emílio e esse não sai. Ele tem história com a Jovem Pan, trabalha aqui há 20 anos. Ele é o preocupado. Não adianta a Globo pegar o Ceará, não adianta. O bom é o Emílio. Os outros estão levando a vida na flauta, fazendo show, e ele tá aí. Eu tenho certeza de que sem o Emílio eles não fazem sucesso. Se levarem o Vesgo e o Ceará, dura pouco, como duraram pouco os caras da MTV que foram para a Globo. O Emílio, não. Ele está aqui todo dia, até as 4 da manhã, pra editar o programa. É um cara de caráter, o que é difícil hoje em dia, principalmente nesse meio.

PLAYBOY> A Mariana Kupfer trabalhou no Pânico na rádio e agora é alvo das brincadeiras do programa.Qual é a história de vocês com ela?
TUTINHA> A Mariana Kupfer é um zero à esquerda. Se achava a gostosona e por isso uma vez veio aqui pedir trabalho. A gente tinha uma história de colocar sempre uma patricinha que servia de escada para os caras zoarem. Ela quis fazer esse papel e por causa dele foi convidada para a Casa dos Artistas. Por causa desse papel, lançamos um CD dela que vendeu 40 mil discos. Quando ela voltou pro Pânico, depois da Casa, estava se achando e começou a se sentir ofendida. Aí teve alguns pegas no programa e aceitou um convite do Otávio Mesquita para ir pra TV. E foi sem me dizer tchau. Eu tinha ajudado a Mariana, que não era nada. Vinha aqui me puxar o saco, me dizer que eu era um gênio. Depois que o Pânico na TV estourou, ela voltou a me rondar. Entrou na minha sala e disse: "Nossa, querido, que saudade". Eu odeio falsidade. Saudade o cacete. Disse: "Tchau, vá embora, some daqui". Se a pessoa me sacaneou, até logo.

PLAYBOY> O Pânico não exagera?
TUTINHA> Várias vezes. O cara estar no telefone e você ir lá abaixar a calça dele não dá, né? Também odeio coisas escatológicas. A gente faz reunião, porque eles são um bando de porras-loucas sem limites.

PLAYBOY> Como na vez em que a Sabrina Sato masturbou um porco?
TUTINHA> Essa foi horrível, passei uma semana sem dormir. Dei um puta esporro quando acabou o programa. Essa é uma das piores.

PLAYBOY> Você interfere no conteúdo do programa?
TUTINHA> Eu estou sempre ponderando que o excesso não é necessário. No começo eu era super contra fazer brincadeira com anão. Eu falei: "O que vocês querem agora? Imitar o Ratinho?" Aí eu vi que o anão estava ganhando grana, sendo reconhecido, e mudei de opinião.

PLAYBOY> Desde quando você gosta de besteirol?
TUTINHA> Meu avô era dono da TV Record. Desde pequeno eu vivi em televisão, comecei a trabalhar com 15 anos. Fazia a direção de um programa infantil chamado Setinho e todo mundo ficava me instigando a fazer sacanagem. O apresentador, que era o Durval de Souza, gostava de falar perto da lente. Eu botava a câmera lá no fim do estúdio, o mais longe que desse, e punha o zoom grande. Ele vinha falando perto e a cara dele ficava inteira distorcida. Ele queria me matar, mas eu era neto do dono e sempre tinha mais uma chance.

PLAYBOY> Você tinha outras vantagens?
TUTINHA> Ah, eu fazia umas coisas como levar todos os meus amigos para ver Perdidos no Espaço no cineminha da Record. Lotava o cinema de amigos da escola, pedia pizza e Coca-Cola pra todo mundo. Eu fumava, bebia. Adorava aquele ambiente de televisão. Ia no balé, era louco pelas bailarinas. E pegava um monte delas! Era neto do dono, né?

PLAYBOY> A TV Record já foi da sua família e hoje pertence a outros donos.O que você acha da programação atual?
TUTINHA> Uma bomba, com aqueles bispos falando. A Record era mais divertida. Tinha umas coisas assim: uma propaganda ao vivo em que uma garota aparecia tomando uma bebida. Os caras faziam xixi na garrafa e ela tinha que beber, sem perder o rebolado. Eu vivi muito coisas assim porque minha família praticamente começou com o Assis Chateaubriand a televisão no Brasil.

PLAYBOY> E as celebridades da época, você convivia com elas?
TUTINHA> Meu pai fazia parte da equipe A da TV Record na época dos festivais da Jovem Guarda. E eu ia com ele para a televisão. Então tenho fotos sentado no colo da Elis Regina e da Hebe. Eu sempre tive essa mordomia de ficar no meio dos artistas.

PLAYBOY> Quando você começou a levar a televisão a sério?
TUTINHA> Quando eu tinha uns 18 anos, meu pai comprou a Jovem Pan dos ir mãos. Eu não fui logo para a rádio. Fiquei no lugar do meu pai na Equipe A. Então dirigi o finalzinho da Família Trapo, fiz um programa com a Hebe Camargo e a Elizete Cardoso e outro com os Secos e Molhados. A Hebe é minha amiga até hoje. Nessa época eu comecei a levar as coisas a sério. Fiz até novela.

PLAYBOY> Que novelas?
TUTINHA> Eu ajudei o Antunes Filho a fazer umas novelas que não tiveram sucesso nenhum. Eu também fiz uma com o Cassiano Gabus Mendes.

PLAYBOY> Quando você entrou na Jovem Pan?
TUTINHA> Meu pai me chamou pra montar a FM no rádio. Já existia um conceito de FM, mas era FM de dentista, aquela rádio só musical. A gente fez uma rádio misturada. Tocava Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, tudo. Explodiu. A gente acertou logo de cara.

PLAYBOY> Quem eram os artistas brasileiros que tocavam na rádio?
TUTINHA> Na época, o forte era bossa nova. Tinha também a Elis Regina, o Jair Rodrigues, o Trio Mocotó. A rádio ia acompanhando as tendências. Eu levei os artistas da televisão para o rádio - a Hebe Camargo, a Cidinha Campos, o Roberto Carlos.

PLAYBOY> E os estudos?
TUTINHA> Eu já tinha largado a Faculdade de Comunicação Social. Eu trabalhava muito, fazia a Hebe, tinha que ir ao ensaio, depois à noite tinha que fazer o programa. Não tinha tempo para estudar e não gostava.

PLAYBOY> Quando saíram os artistas e entraram os locutores?
TUTINHA> A rádio Cidade, do Rio de Janeiro, foi a primeira a pôr os locutores. Tinha locutores famosos no Rio e, quando ela entrou, derrubou a Jovem Pan em São Paulo. Aí foi a primeira vez que eu tive que mudar. A rádio ficou mais jovem para combater a rádio Cidade. Tirei os caras de lá e a gente voltou à liderança. Foi aí que eu criei um personagem, o Mike Nelson. Foi um sucesso. Só falava besteirol.

PLAYBOY> Por que inventar um nome?
TUTINHA> Eu não ia falar meu nome porque tinha vergonha. Depois eu criei o Djalma Jorge. Eu falava "I love you, mina", soprava no microfone. Teve um programa que eu adorei: a gente punha efeito de abelha e passava o tempo inteiro fingindo tentar matar a abelha e não acontecia nada. A gente quebrava o estúdio inteiro fingindo que tinha uma abelha. Éramos uns loucos.

PLAYBOY> Essas idéias foram aproveitadas no Pânico?
TUTINHA> Tem muitas coisas. O Emílio Surita fazia a narração do Homem Oferta. Ele falava: "E agora vamos visitar aquele monstro, aquele assassino, na cadeia, que está preso, ele que matou a própria mãe e comeu a perna da filha, o Homem Oferta!" Aí fingia entrar na jaula com aquele barulho de corrente, aquela coisa horrorosa. E perguntava: "Homem Oferta, é verdade que você comeu a sua própria mãe?" E ele respondia: "Ventilador Arno, em duas prestações de 4,80". Puta besteira de idiota, mas a gente cagava de rir. O jeito do Emílio falar hoje é o mesmo do Djalma.

PLAYBOY> O contrato do Pânico com a Rede TV! termina em 2007. Vocês vão mudar de emissora?
TUTINHA> Pretendemos procurar uma situação melhor para o Pânico. O grande problema da Rede TV! é que não dão condições para o programa melhorar. Botam comerciais em excesso, muito merchandising e não dão condições. Para mandar os caras para a Copa, a gente tem que pagar.

PLAYBOY> O Vesgo e o Sílvio vão para a Copa com o dinheiro do Pânico?
TUTINHA> É, você acha que tem cabimento? Esse é o ponto fraco da Rede TV!. O Amilcare [dono da Rede TV!] e o Marcelo Carvalho [presidente da emissora] estão cometendo um erro. Deveriam dar mais dinheiro para o programa. Não dá pra ficar só indo a festas. Tem que ir pro Oscar, pra Fórmula 1. Na Globo a gente estaria fazendo isso, né?

PLAYBOY> A TV Globo é o sonho de consumo?
TUTINHA> Não, o sonho é o filme do Pânico. A Disney e a Fox já demonstraram interesse. A gente quer licenciar produtos, fazer teatro.

PLAYBOY> A audiência do Pânicojá chegou a 15 pontos no Ibope, e hoje anda pelos 6. O programa está perdendo o fôlego?
TUTINHA> Urubu negro é só o que tem. Se o Pânico continuar igual, vai ser um programa igual a qualquer outro. Você vê o Casseta e Planeta. Ninguém mais fala dele, fala? E está lá, não está? Se o Pânico mantém uma média de 6, 7 pontos de audiência com qualificação AB, nunca mais se acaba. É que nem a Hebe. Mas, é óbvio, se não fizer nada de novo, dança. O Pânico vai ter que se coçar. É que hoje, depois que estourou, a imprensa já fica um pouco contra. No começo, quando era uma coisa fracassada, era bárbaro.

PLAYBOY> É difícil manter o vigor dos primeiros programas?
TUTINHA> É duro porque a Rede TV! não dá recursos. É o maior programa da emissora, o maior faturamento, levantou o prestígio. Tinham que dar tapete vermelho pro Pânico.

PLAYBOY> Você estendia tapete vermelho para os artistas, quando tinha a produtora? Atendia muitas exigências?
TUTINHA> Sim. Principalmente dos brasileiros. Americano é muito profissa. Ele fala: quero 20 garrafas de água Perrier, 30 toalhas brancas, mulher. Alguns querem drogas e só. Mas brasileiro é over, quer suíte presidencial que não pode ter o tapete marrom. O Caetano Veloso gostava de terminar o show e ter um jantar pra ele. A gente armava, ele convidava os amigos.

PLAYBOY> Quem pedia drogas?
TUTINHA> O Ramones. A gente alugou o hotel Maksoud, em São Paulo, e um cara do Ramones não trouxe mala. Viajou com a roupa do corpo e passou cinco dias com a mesma roupa. Ele entrava no quarto e pedia marijuana. A mim dava medo. Mas essa não era minha parte, eu tinha outros sócios. Eu era responsável pela iniciação do negócio, arrumar o artista. E eu tinha mais facilidade de conseguir o artista porque tinha rádio. Entrava e falava com o presidente da gravadora, falava que ia tocar o disco.

PLAYBOY> Dizem que você ganhou uma moto Kawasaki pra divulgar o disco Faith, do George Michael.
TUTINHA> Mentira. Essa moto eu ganhei de presente do meu pai. Ah, todo mundo fala mal de todo mundo.

PLAYBOY> A internet diminuiu o poder das rádios?
TUTINHA> Nada é mais forte do que a rádio para música. Nem a Globo. Só rádio faz a música estourar. Você não vê o Fama? O cara vai lá, uma puta audiência, e cadê aqueles caras?

PLAYBOY> Cadê?
TUTINHA> Não emplacam porque para isso eles têm que fazer acordo pra tocar na Jovem Pan. Não fazem, não estouram. Nunca me procuraram, nunca estouraram. Por exemplo, o Rouge. Fez acordo para a Jovem Pan aparecer no programa deles do SBT. Era um acordo comercial que não envolvia grana, mas aparições na televisão, mostrar a rádio, coisas assim. E o Rouge explodiu. Depois não foi feito acordo com o Broz e o Broz não deu em nada. Além da rádio, só a novela influencia. MTV é zero.

PLAYBOY> Quem são os músicos que você admira?
TUTINHA> Eu gosto de música brasileira. Bossa nova, João Gilberto. Do Tom Jobim eu gosto pra cacete.

PLAYBOY> E da moçada nova?
TUTINHA> A música brasileira de hoje é um lixo. É uma música que não vai fazer história. Que história vai fazer o CPM 22, me fala? O Charlie Brown?

PLAYBOY> Por que não?
TUTINHA> Porque é uma música temporal, que combina com a idade do moleque. A letra não é forte, não tem sentimento. "Ah, vou fumar maconha, vou rasgar a calça, vou comer a mina, vou cuspir na cara, vou dar o cu na esquina". É isso aí, com raras exceções, como o Rappa e o Marcelo D2. Mas a maioria das músicas é feita por produtoras com o objetivo de vender discos. Eu acho lamentável, mas tenho culpa nisso porque não dou oportunidade para novos gêneros.

PLAYBOY> Esses músicos que você citou - CPM 22 e Charlie Brown Jr. - tocam na sua rádio?
TUTINHA> Todos. Eu sou uma pessoa que não tem opinião. Pra mim, que tenho o objetivo de ser o primeiro lugar, não adianta saber se eu gosto. Eu tenho que saber se faz sucesso. Se eu vou ver o show de Sandy & Junior e vejo lá o público da rádio, até penso em tocar na Jovem Pan. Eu sou treinado para isso. Quem tem muita opinião não consegue fazer a coisa comercial. Mas eu gosto do Charlie Brown. Só acho que é uma música que não fica.

PLAYBOY> E quem vai fazer história?
TUTINHA> Deixa eu pensar. Gostei do primeiro disco da Maria Rita, mas o segundo é um lixo. Pra ser sincero, eu acho esse segundo disco da Maria Rita uma bomba. Também ela é meio boba. O que tem de melhor é a mãe e devia regravar algumas coisas da Elis. O artista demora pra sacar que se ele não tem uma música boa ele não estoura. Começa a achar que é bom e grava qualquer coisa. A Maria Rita fez um disco de merda e não vai vender.

PLAYBOY> Na época do boom do axé, como era a relação da Jovem Pan com as bandas baianas?
TUTINHA> A Jovem Pan tocou axé e a Bahia inteira desceu aqui pra tocar.

PLAYBOY> Tocou É o Tchan?
TUTINHA> Não, mas tocamos Netinho, Ivete, Banda Eva e Banda Mel. Depois a gente achou que a rádio caiu e podia ser o axé. É que essa rádio é conceito, sabe? Por exemplo, a molecada gosta de samba. Mas a gente acha que conceitualmente tocar Inimigos da HP, por exemplo, atrapalha a rádio. Então a gente prefere tocar rock, house e música brasileira e não arriscar a audiência.

PLAYBOY> Mesmo que os acordos comerciais sejam ótimos?
TUTINHA> Não tem acordo pra coisa que a gente não gosta. Pode vir aqui, mandar 200 mil dólares pra tocar e a gente não toca, não adianta.

PLAYBOY> Como vai a Bacana Records, sua nova produtora de discos?
TUTINHA> Estamos fazendo alguns acordos com a Trama. A Trama é uma gravadora de artistas novos, mas falta o lado comercial lá dentro. Não adianta o cara ficar fazendo o disco do Max de Castro se não botar música comercial. Lança 20 discos e ninguém ouve. O cara tem que ser esperto. Pode até perverter um pouco, entendeu? O Seu Jorge, esperto, gravou Chico Buarque e entrou.

PLAYBOY> Parece que você é muito amigo do Milton Neves...
TUTINHA> Não sou. Nunca fui. Vamos falar a verdade? Acho o Milton Neves de quinta categoria. Bota aí que eu meti o pau nele. Ele é um canalha.

PLAYBOY> Mas as declarações dele sobre você são muito elogiosas.
TUTINHA> As pessoas falsas são assim. Estão te sacaneando por trás e falam bem de você. Profissionalmente eu o respeito e admiro, mas ele é é um injusto. Entrou com uma ação contra a Jovem Pan depois de ter trabalhado anos aqui.

PLAYBOY> Por quê?
TUTINHA> Por causa de nada [irritado]. Meu pai ajudou o Milton Neves do zero. Ele deve todo o sucesso ao meu pai. E ele foi muito sacana, entrou com uma ação trabalhista ridícula. Meu pai deu força, deu os melhores horários pra ele trabalhar. E ele virou as costas e sacaneou meu pai. Como vou gostar de um cara desses? Ele ganhou muito dinheiro, está muito rico, não precisa de ação. E ele já era, vai se ferrar, porque aqui se faz, aqui se paga.

PLAYBOY> Você tem muitos inimigos?
TUTINHA> Não que eu saiba. Deve ter muita gente com inveja de mim.

PLAYBOY> Você já se deu mal por esse seu jeitão curto e grosso?
TUTINHA> Já. O Rubens Barrichello não ganhava nenhuma corrida, só chegava em segundo, e eu fiz uma música assim: "Sempre atrás do alemão. É o Rubinho!" Essa música foi um sucesso estrondoso, todo mundo cantava. Aí eu estava em São Paulo, no Parque do Ibirapuera, e de repente vi o Rubinho correndo na minha frente. Quando eu vi, pensei: ele vai me encher de porrada.

PLAYBOY> E encheu mesmo?
TUTINHA> Eu virei e saí fora do Rubinho. Aí um mês depois ele processou a gente em 100 mil dólares. Eu fiz uma besteira, que foi pegar essa música e botar no CD da revista. O juiz se chamava Ferrari [risos]. Aí a gente se acertou, pagou o valor em obras de caridade no nome do Rubinho. Uma outra vez eu o encontrei, falei com o Rubinho e ele me deu as costas. Puta, fiquei com uma vergonha do cacete naquele dia.

PLAYBOY> O Luciano Huck declarou que você é ótimo, até a hora em que pisam no seu calo. O que é pisar no seu calo?
TUTINHA> É tipo assim, o Jota Quest. O empresário deles se chamava Chantilly e me prometeu um show em Maresias. Eu montei um estande de verão em Maresias, no litoral de São Paulo, vendi o patrocínio. E ele fez um show com a rádio Mix em frente ao meu estande. Por isso eu não toco o Jota Quest.

PLAYBOY> Você teve prejuízo financeiro?
TUTINHA> E moral. Eles que se danem! Ou eles me pagam o prejuízo que eu tive, me dão o show, ou eu não toco. Eu não sou de brigar, mas se o cara faz show com uma rádio concorrente, então que vá pedir para aquela rádio tocar, vá para o inferno. Agora eles estão sofrendo, porque não tocar na Jovem Pan é muito grave, acaba com o artista. Eu tenho pena? Tenho. Mas eles têm que me ressarcir. A Ivete Sangalo também fez parecido.

PLAYBOY> O que a Ivete fez?
TUTINHA> O Jesus, o irmão dela, se comprometeu a fazer show comigo. Botei anúncio na rádio, no jornal, um dia ele me ligou e disse: "Não vou fazer". Como a Ivete é muito poderosa, ela acha que pode fazer isso. Mas um dia é da caça e outro é do caçador. Ela é um amor, apesar do irmão, que eu odeio. A Ivete namorava o Luciano Huck, a gente ia jantar, eu gosto dela. Mas o irmão é de quinta categoria e um dia vai prejudicar a carreira dela. Ela que abra o olho.

PLAYBOY> Muitas pessoas já tentaram prejudicar sua carreira?
TUTINHA> Houve uma época em que as gravadoras quiseram acabar com essa história de dar prêmio ou dinheiro para as rádios tocarem as músicas. Porque o negócio estava generalizado, todo mundo queria um carro, uma viagem, uma camiseta. Então as gravadoras resolveram acabar com a Jovem Pan, porque a Jovem Pan é a mais forte. Então eu parei de tocar as músicas de todas as gravadoras.

PLAYBOY> E tocou o quê?
TUTINHA> Eu fiquei sócio de um amigo na gravadora Paradoxx e só tocava essa gravadora. A rádio foi para o primeiro lugar e a Paradoxx foi a que mais vendeu discos naquele ano. A gente tocava dance. Aí as outras gravadoras desistiram da briga e voltaram.

PLAYBOY> Você é rico?
TUTINHA> Eu sou. Eu ganho dinheiro, sou um cara de idéias, montei sete negócios. Tenho a Revista Jovem Pan, uma empresa de telefonia, o portal Vírgula, a Carteira de Estudante. No ano passado vendi quase 150 mil carteirinhas. Faço shows, faço eventos.

PLAYBOY> Quais são seus luxos?
TUTINHA> Veleiro e viagens. Trabalho 40 dias e viajo dez.

PLAYBOY> Gosta de carros?
TUTINHA> Gosto de todos os luxos. Que homem não gosta de carros?

PLAYBOY> Qual é o seu?
TUTINHA> Um Corolla [risos]. Mas eu tenho um BMW e um Porsche.

PLAYBOY> Você tem algum plano para o futuro?
TUTINHA> Entrar na TV. Eu fico animado porque o Roberto Marinho montou a Rede Globo com 60 anos. Eu sou uma pessoa ambiciosa.

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