Maldito BBB (e seus odiadores)

Por Adilson Fuzo, do site Maldita Cultura Pop.

A coisa mais fácil que existe nesse mundão é meter pau em reality show. É ou não é? A coisa fica mais fácil ainda se for para falar mal do Big Brother, já que franquia neerlandesa apresentada no Brasil pela Globo alcançou tanto sucesso que se transformou numa espécie de Maizena dos realities.

Cornetar o BBB é um verdadeiro esporte nacional. A Globo, o Bial, as gostosas, as provas, o baixo nível da televisão brasileira… Tudo é um lixo. Nada presta. Críticos e telespectadores finalmente entraram num consenso.

Mas por mais odioso, grotesco, tosco, repugnante, imbecil, ridículo e maldito que seja o BBB, as pessoas INSISTEM em assisti-lo todo começo de ano, como num exercício macabro de autoflagelo (ou hipocrisia) sazonal.

E a repercussão na mídia é enorme. Jornais e revistas estampam os confinados em suas capas. Programas femininos passam horas discutindo as picuinhas da casa e até mesmo os portais da concorrência criaram o cargo de “setorista de leva-e-traz” para a cobertura do reality.

A mídia corre atrás (na minha opinião, acertadamente) porque o BBB é efetivamente um assunto relevante de interesse geral. O paredão de domingo, por exemplo, é assunto obrigatório nas rodinhas do café na segunda-feira de manhã. Internautas trocam bofetadas virtuais (em péssimo português, diga-se de passagem) nos fóruns da vida perdidos pela web. Telespectadores fanáticos assinam o pay-per-view, montam blogs especializados no assunto, passam horas fingindo que estão trabalhando, quando na verdade estão votando freneticamente para eliminar seus desafetos do jogo.

Agora, cá entre nós, seria fácil (e sem graça) demais espezinhar ainda mais o BBB apontando seus podres. Por isso, eu prefiro que o Maldita Cultura Pop trate de uma outra questão que, depois desse apedrejamento, tornou-se mais importante: qual é o problema de gostar de Big Brother? Que pecado há no entretenimento barato?

É meirmão, ninguém prometeu que o BBB seria um programa educativo, científico, acadêmico, jornalístico ou algo do gênero. Aliás, nem só de coisas sérias é feita a vida. Big Brother é entretenimento e deve ser encarado como tal - superficial, incoerente e sem nenhum propósito útil. Se você quer algo que “agregue valor” para sua vida, desligue essa TV e vá ler um livro. Não, Dan Brown não serve.

Além disso, se você deixar os preconceitos de lado, vai perceber que já faz tempo que o programa não é um mero point de encontro entre bombados e siliconadas. Por trás da aparente superficialidade do Big Brother, está um interessante laboratório de seres humanos, complexos, limitados, cheios de certezas e dúvidas, tão atrapalhados com a própria vida como todos nós.

Quando todos são botados numa caixa de vidro, eles deixam de ser participantes para se tornar personagens. Assim, o mimimi do dia-a-dia se transforma numa trama composta por fios de romance, conspiração, comédia, drama, conflito, transformação e tudo mais que você pode encontrar numa boa história. Basta ter olhos para enxergar como a narrativa se desenrola.

Vamos dar um desconto também para esses pobres sujeitos que empenham toda privacidade de sua vida na esperança improvável de arrematar um prêmio de R$ 1 milhão. De quebra, os caras ainda têm que aguentar os poemas do Bial, os esporros do Boninho, as provas sádicas de resistência, os programas infames de humor e até um show do Carlinhos Brown. Aí já é demais…

Big Brother é uma brincadeira. Um jogo. Não é para ser levado tão a sério. Por isso, também não precisa ficar indignado só porque você desconfia que a Globo forja situações, manipula paredões, favorece um ou outro participante na edição. Leve na esportiva, pô!

Entretenimento bobo, despretensioso, descompromissado também pode ser um bom entretenimento. Já ouviu falar na Maldita Cultura Pop? É claro que sua vida não deve se resumir a isso. Mas pode ligar a televisão e assistir Big Brother em paz. E não tenha vergonha se, num bate-papo qualquer com os amigos, você deixar escapar que odeia aquela mimadona da Ana Carolina. (Ops!)

Achei o texto excelente! Não consegui discordar!

As pessoas assistem ao BBB pelos barracos, pelas simulações de vida real que cada participante inventa, pelo sadismo natural do ser humano - ver os brothers e sisters numa prova de resistência como a de quinta-feira vale por 1000 videocassetadas -, mas também acabam conhecendo um pouco daquelas pessoas e enxergando um pouco de si no que cada um faz.

Quem nunca pensou no que faria se estivesse no lugar de algum participante? No que teria que aguentar, nas coisas que sentiria falta… No porque de não querer participar (ou, em alguns casos, no porque de querer participar)?

Nado contra a maré e digo que o BBB é um programa bom. Arrastado, com momentos de mau gosto e até com show do Latino - 1000 vezes pior que do Carlinhos Brown! Mas é entretenimento, é cultura pop e só não é um retrato do comportamento humano porque o grupo é muito homogêneo, ou exibicionista, como lembrou Edson Okudi, do blog Olho na TV, no sistema de comentários blog Poltrona, que também reproduziu esse texto.

Com ou sem encenações - que eu não acredito que durem 24 horas por dia em mais de três meses - é um retrato do comportamento daquele grupo e, mesmo com a aparente superficialidade dos escolhidos, traz surpresas. É uma novela sem roteiro e foi, talvez, a maior inovação da TV aberta nesse século, como já disse o Boni ao Daniel Castro.

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