Bia Abramo: "Roda da fortuna do 'Big Brother'"

Texto da Bia Abramo, publicado na edição de hoje da Folha:

"São tudo falseta" (sic), disse a loira, sobre seus colegas de confinamento. Como se fosse alguma surpresa, Ana Carolina, a última eliminada antes da final da última terça-feira, expressou aquilo que todos devem pensar de todos no "Big Brother". Apesar do, digamos, ultracoloquialismo da formulação, não deixa de ter sua expressividade.

É claro que, no mundo dos reality shows, as categorias de verdade ou falsidade estão de pernas para o ar.

Nada mais falso do que a verdade que se inventa jogando 14 pessoas diferentes para competirem durante três meses com o propósito de eliminar os concorrentes, de modo que um deles, ao final, seja premiado com um dinheiro que nenhum deles fez por merecer. Ao mesmo tempo, nada mais verdadeiro do que esse desejo avassalador de estar exposto de corpo e alma e ainda ser "pago" para isso.

Ganham, no final, aqueles que conseguem seguir de pé nesse terreno instável de verdades e mentiras e, ao mesmo tempo, exibir algum fator de atração suficiente para que os telespectadores, de forma meio espontânea, meio induzida pelo conjunto do espetáculo, ajudem a mantê-los no programa.

Nessa nona edição, ruim de audiência, mas campeã de faturamento publicitário, ganhou Max -homem, classe média mais ou menos ajeitada, com pretensão de artista. A não ser pela profissão, tem sido esse o perfil básico dos ganhadores -foram sete homens contra duas mulheres a ganhar; alguns declaravam histórias pregressas de dificuldades, mas todos, quando entravam no jogo, estavam nessa faixa social.

É como se, pelos mecanismos que parecem aleatórios das sortes e azares que acontecem nos três meses que passam trancados, no fundo coubesse ao espectador escolher aqueles que estão pré-selecionados pela roda da fortuna. Às mulheres resta o papel de coadjuvantes, namoradas, animadoras de torcida e, em apenas dois casos até agora, uma sobrevida de celebridade de fato depois de findo o programa.

Uma falseta, em suma, como acertou Ana Carolina, mesmo errando na concordância. No capítulo que encerrou o programa, Pedro Bial afirmava que os verdadeiros manipuladores são "vocês", referindo-se aos participantes. Nada mais verdadeiramente falso -ou seria falsamente verdadeiro? Como já se sabia e ficou ainda mais patente nessa edição, o que importa mesmo são as cotas publicitárias -essas sim, verdades polpudas e incontestes, mais ainda que a quantidade de pessoas que assistem ou não, que aderem ou não ao programa. O resto é sermão.

biabramo.tv@uol.com.br

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