Folha destaca o "ter ou não ter" audiência da TV Cultura

A polêmica sobre a audiência levantada pelo secretário de relações institucionais do governo Serra, presidente do diretório municipal do PSDB e membro eletivo do Conselho da Fundação Padre Anchieta, o advogado José Henrique Reis Lobo (foto abaixo), foi abordada na Folha de S. Paulo desta terça. Confira o texto:

TV Cultura sob pressão
Secretário do governo Serra prega implosão do sistema de gestão da emissora e critica aparente desprezo pela audiência


DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

MidiaClippingSecretário de Relações Institucionais do governador José Serra e presidente do PSDB paulistano, o advogado José Henrique Reis Lobo, 65, sacudiu o conselho curador da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura

Em carta enviada aos conselheiros (são 47), Lobo questionou a falta de preocupação com a baixa audiência da emissora e defendeu a implosão do próprio conselho, além da "profissionalização" da diretoria executiva, presidida por Paulo Markun. A Cultura tem média atual de só 1,4 ponto no Ibope da Grande SP, equivalente a 80 mil domicílios sintonizados na emissora por minuto.

As críticas de Lobo foram o principal assunto da reunião mensal do conselho, ontem.

Lobo diz à
Folha que está provocando o "imobilismo" da TV Cultura por conta própria, mas sua atuação é avaliada por alguns como um balão de ensaio do governo para tentar implantar mudanças na TV.

Serra tem o desejo de reformar o conselho curador, mas nunca manifestou preocupação com a audiência. Se mudar o sistema de gestão, não será sua primeira interferência. No final de 2008, o governo do Estado, que banca 42% dos R$ 194,7 milhões do orçamento da Cultura, impôs um contrato de gestão em que a fundação terá de cumprir metas, como a redução de publicidade.

Lobo diz que o contrato de gestão deveria ter incluído também metas de audiência, o que não ocorreu. Ele considera um absurdo uma emissora que consome quase R$ 200 milhões por ano registrar pouco mais de um ponto no Ibope.

Diz que é preciso "traduzir" esse dinheiro em audiência, para "justificar o investimento feito com recurso público". Os programas, defende, têm de ter uma relação custo-benefício. "Não é porque se trata de uma emissora pública que não se deve se preocupar com isso."

Mas, segundo ele, dar audiência na Cultura é algo que "envergonha": "Falar em audiência na TV Cultura parece uma preocupação plebeia, o que é um engano. É perfeitamente compatível ter programa de qualidade que ao mesmo tempo tenha quem assista".

Na reunião de ontem, João Sayad, também secretário de Serra (Cultura), se opôs a Lobo: "A TV Cultura é um instrumento de política cultural, que tem muitas preocupações, e a menor delas é a audiência".

Elitismo
As principais funções do conselho curador são fiscalizar a aplicação dos recursos e as ações da diretoria executiva, além de eleger o presidente da emissora a cada três anos e zelar pela autonomia. O órgão é composto por reitores de universidades, secretários do Estado e do município, empresários, políticos, acadêmicos e artistas. Para Lobo, é tudo "gente muito séria e competente", mas que não entende nada de TV. Ele mesmo se sente incompetente para analisar programas e prega conselhos menores, compostos por especialistas.

Lobo critica Markun por tirar e colocar programas do ar "sem base técnica, profissional, científica", o que "reforça a impressão de que a TV foi transformada em laboratório".

Para o secretário (que diz só assistir ao programa "Café Filosófico"), é um equívoco a ênfase que a direção tem dado às "novas mídias", com a transmissão do "Roda Viva" antes na internet e só depois na TV.


Presidente da emissora rebate as acusações

O jornalista Paulo Markun, presidente da Fundação Padre Anchieta, afirma que audiência é importante, sim, para a emissora, mas não é tudo. "A gente tem uma programação diferenciada, deve levar em consideração o alcance social daquilo que produz. Não estou me furtando a discutir o assunto, mas nosso foco não é só audiência", diz.

Ele nega que não haja preocupação com audiência. Diz que o assunto é estudado e debatido diariamente. "Não faz sentido fazer TV para ninguém." Markun enfatiza que a baixa audiência não é um problema exclusivo da TV Cultura, mas de várias emissoras públicas que não seguem lógica comercial, como a PBS, dos EUA.

Ele avalia que a Cultura apresenta "um bom resultado" na relação custo-benefício e que "está acima da média no que diz respeito a gastar bem o dinheiro". Segundo Markun, a emissora custa 50 vezes menos do que a Globo, mas sua audiência é só 17 vezes menor.

O executivo apresenta dados de audiência que mostram "que não houve uma derrocada". Em 20 anos, a média anual oscilou de 0,7 a 2,9 pontos.

O jornalista refuta a afirmação do secretário Lobo de que a emissora é usada como "laboratório" de programação.

"Não é verdade. Acho que a gente tem que ter uma fase de experiência, sim. Mas não são experiências ditadas por quem está na diretoria de programação. Ao contrário, eu eliminei isso", afirma.

Markun também nega haver entra-e-sai de programas e falta de critérios para isso. "No ano passado, nós entramos com novos programas, mas a redução foi muito pequena."

Por fim, devolve as críticas a Lobo, que, enfatiza, não representa no conselho o governo do Estado, mas a sociedade civil. "O conselheiro talvez devesse acompanhar mais de perto a programação."

A Folha disponibilizou o texto integral da carta do secretário aos conselheiros da FPA.

E aí continua essa discussão, cada vez mais distorcida, sobre o "ter ou não ter" audiência da Cultura.

Quando não se cobra audiência, parece que a intenção é fazer com "dinheiro público" uma TV elitista, prejudicando o "povo paulista", que "paga impostos" para sustentar uma programação feita para poucos - coloquei as duas expressões anteriores entre aspas porque são curingas para qualquer discurso demagógico, incluindo o dos "justiceiros eletrônicos". Mas que audiência se espera? Os números absolutos do IBOPE?

Concordo que seria bom que a TV Cultura fizesse programas cada vez melhores e cada vez mais criativos - coisa que, ultimamente, também não tem acontecido muito -, e que esses programas fossem atrativos para mais pessoas. O problema é essa cobrança de audiência em que um aprofundamento mínimo faz chegar nessas expressões do "Brasil Urgente" ou do "Balanço Geral". Dá a impressão de que o conselheiro da FPA espera a audiência pela audiência. E, nesse caso, qualquer bundalelê funcionaria! Resta saber se isso seria uma forma melhor de gastar o "dinheiro público" do "povo paulista".

Comentários

  1. Anderson,

    A TV Cultura chegou a registrar 14 pontos e atingir o segundo lugar em audiência, tal façanha ocorreu nos anos 90...
    A Cultura, de fato, está mais preparada para ser uma emissora publica de fato, do que a TV Brasil,
    Mas a Cultura, infelizmente está com problemas, como o sucateamento de equipamentos
    A Cultura precisa expandir o sinal pelo Brasil e ser mais ampla e publica
    Eu assisto a Cultura pelo 45 UHF, e garanto, é bem melhor que a TV Brasil

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  2. Peter, a Cultura é melhor que a TV Brasil porque tem 40 anos de experiência, sem contar o período em que pertenceu aos Diários Associados!

    A TV Brasil está se estruturando ainda. Não dá pra comparar uma emissora de um ano com aquela que é considerada o melhor modelo de TV pública no Brasil! Tudo bem que a TV Brasil não começou do zero, ela herdou a grade da TVE (que também tinha sua experîência e seus destaques), mas levou no "pacote" a Radiobrás, que dispensa apresentações...

    Sobre a Cultura, ela realmente já teve dias melhores. E o sucateamento dos equipamentos é maior do que aparenta na tela. Já estive na TV Cultura algumas vezes... parece um museu!

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