Rafinha Bastos, o "politicamente correto" e o humor do bullying

Antes de qualquer comentário, recomendo ler o texto do Marcelo Rubens Paiva.

Disse, outro dia, que concordava 100% com o Marcelo Rubens Paiva, mas não concordo com o seguinte trecho do texto: "Afastá-lo foi uma saída corajosa da BAND. Sua conduta manchava o brilho do programa".

O cara faz humor baseado no bullying e é sempre defendido pela emissora e pelos colegas. Falam de liberdade de expressão, censura, perseguição, que o limite do humor é a graça... Aí, num belo dia, o humor limitado apenas pela graça agride, com a mesma graça de antes (ou falta de graça) uma pessoa ligada a um anunciante. E com a mesma intensidade, inclusive. E a coisa muda radicalmente.

Aliás, recomendo também ler o texto da Cynara Menezes na CartaCapital, ou pelo menos o segundo item.

Como quem defendeu outras piadas de gosto duvidoso em nome da liberdade de expressão e em repúdio aos "politicamente corretos" - e estimulou o cara a perder cada vez mais a noção de qualquer coisa - muda de postura de uma hora para outra?

Aí o Rafinha Bastos pede demissão. E faz certo.

A Fabiola Reipert escreveu que "Rafinha se sente acima do bem e do mal e continua tirando onda de tudo, sem respeitar ninguém". Não duvido. Caso contrário, não teria mandado a Mônica Bergamo chupar seu "grosso e vascularizado cacete" ao ser questionado sobre a "engraçadíssima" piada que fez sobre a Nextel e o Fábio Assunção no último domingo.

Aí vem o que eu quero comentar. O problema do Rafinha Bastos é o ego. Além do mau gosto e do humor sem graça baseado no bullying, ele ri de si mesmo com muita dificuldade e em questões bem específicas, como o esteriótipo do gaúcho gay.

O mal não é ser politicamente incorreto. Ronald Rios é tão ou mais politicamente incorreto que qualquer CQC e ninguém liga. E acredito que isso nem seja tanto pela visibilidade menor que ele tem, mas principalmente porque ele ri de si mesmo com a mesma naturalidade (e maldade) com que ri de qualquer um.

Quem não sabe rir de si mesmo cria uma imagem antipática e não ganha "aval" para rir dos outros. Ou, em outras palavras, "se acha". É o mesmo mal do Danilo Gentili.

Rafinha Bastos "se acha" e sempre teve aval da Band para isso. Não só da Band: também do Twitter, New York Times e do seu DVD "A Arte do Insulto" entre os mais vendidos.

Tomara que essa discussão sobre os limites do humor amadureça mesmo, como disse o Marcelo Rubens Paiva, até porque já está na hora. Mas isso só vai acontecer quando acabar esse maniqueísmo de censura/politicamente correto x liberdade de expressão.

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