A grande mídia e a mídia alternativa no caso Bóris Casoy

A repercussão do "caso Bóris Casoy" fez 2010 começar reforçando a revolução no acesso à informação provocada pela Internet. Parece exagero, mas não é.

O episódio foi praticamente ignorado pela mídia tradicional, por mais "barulho" que o vídeo tenha feito na Internet - prova de que o comentário preconceituoso do jornalista passaria despercebido se estivéssemos numa época de dependência exclusiva dos grandes veículos de comunicação.

Antes de qualquer coisa, quero lembrar de um detalhe que muita gente esquece quando fala da tal era da informação: por aqui, a maioria ainda só tem acesso a mídias "tradicionais".

Vale lembrar, também, que até dos veículos tradicionais só encontrei material em suas versões Online!


LADO A

Acompanhe o que encontrei - e o que não encontrei - sobre o assunto nos sites de alguns dos maiores jornais do país.

- A versão Online da Folha de S. Paulo, que classificou as ofensas como "gafe", mostrou o primeiro vídeo, conversou com Casoy - que afirmou ter falado "bobagem", justificando que "era intervalo e supostamente os microfones estavam desligados" -, e repetiu o insosso pedido de desculpas. Só, e ainda foi o que mais falou.

- O Jornal do Brasil comentou a "saia justa" da Band, reproduzindo nota de Odair Del Pozzo, do Portal Terra. O texto não falou de gafe, mas de "comentário ácido", e mencionou a repercussão do vídeo na Internet: "Acontece que a indignação já está rodando a internet e virando piada no Twitter: "Mas não é Boris que diz que 'isso é uma vergonha?'", questionava um internauta. Nem fale".

O pedido de desculpas veio acompanhado do primeiro vídeo e de uma descrição bem menos tendenciosa que a da Folha: segundo o jornal, o primeiro vídeo "mostra Casoy ridicularizando a participação de dois garis no noticiário". No ponto.

- A busca por "casoy gari" não trouxe resultados nas versões Online dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja; uma busca por "casoy" trouxe matérias anteriores. Parece que os veículos consideraram o episódio uma "gafe" tão pequena que não valia o comentário.


LADO B

A diferença ficou pela mídia alternativa que, mesmo num fim de semana prolongado pós-réveillon, não deixou o caso passar em branco. Cito apenas três exemplos, dos inúmeros que têm aparecido.

- O jornalista Sylvio Micelli contou um pouco da história de Casoy:

(...) Casoy é de origem judia, uma das etnias mais perseguidas do mundo. Ele, quando criança, foi vitimado pela poliomielite e só começou a andar após os nove anos de idade. Ou seja, apenas esses dois fatos já deveriam dar a ele uma humildade que nem o homem, nem o profissional têm.
(...)

Casoy foi secretário de Imprensa de diversos representantes da Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido que deu sustentação ao Regime Militar. Entre 1968 e 1972, auge da ditadura no país, Casoy passou pela Secretaria de Agricultura paulista, pelo Ministério da Agricultura e pela prefeitura paulistana. É apontado com um dos responsáveis pelas "grandes transformações" do jornal
Folha de São Paulo e pelo sucesso da coluna Painel na década de 80. E está em diversos canais de TV, há mais de duas décadas, sempre "formando opinião".

- Alexandre Campbell, no Blog do Campbell, completou o resumo:

Boris Casoy apoiou a ditadura. Calou-se sobre as torturas e restrições dos direitos dos cidadãos. Depois virou ancora de TV e, "do alto da sua hipocrisia", critica políticos contrários a sua ideologia e faz vista grossa para os quais é simpático.

- Raphael Perret, do Butuca Ligada, ressaltou a importância das mídias sociais:

(...) Está mais do que claro que a repercussão só foi grande porque o vídeo se espalhou depressa pela internet, via YouTube e redes sociais. Sem essa difusão, jamais o apresentador teria que passar pelo constrangimento de pedir desculpas no ar por seus comentários.

Pergunto-me se as piadinhas de Boris Casoy tivessem sido proferidas há dez anos. Elas se transformariam em mais uma dessas lendas da TV brasileira, assistidas por alguns poucos "sortudos", que jurariam ter ouvido as frases, mas jamais poderiam confirmar que elas realmente foram ditas.


LADO B / LADO A

- No Twitter, o autor do site Kibe Loco, Antonio Tabet, citou Lele Siedschlag, do Te Dou Um Dado?, perguntando se o comentário de Bóris apareceria no Top 5 do "CQC". A pergunta deve ter chegado várias vezes a Rafinha Bastos:

Clique para ver o original no Twitter de Rafinha Bastos

- Lele Siedschlag foi uma das responsáveis pela matéria sobre o vídeo no R7.com, um dos primeiros portais - se não o primeiro - a falar sobre o assunto, e é do Kibe Loco a imagem de Bóris em "um dia de gari":

Clique para ampliar em uma nova aba ou janela

- A má vontade do do pedido de desculpas também foi "justificado" num trecho de uma entrevista com Bóris Casoy, disponível num vídeo que também apareceu em vários blogs, incluindo o Querido Leitor, da Rosana Hermann.


- Ao contrário de Rafinha Bastos, Otávio Mesquita não se irritou com as cobranças para que comentasse o caso, e deu sua opinião:

Clique para ver o original no Twitter de Otávio Mesquita

Clique para ver o original no Twitter de Otávio Mesquita

Pode até não refletir, mas se aquele pedido de desculpas for o suficiente para a Band enterrar o assunto...

SAIBA MAIS
A vergonha de Bóris Casoy

Comentários

  1. Muito bom o texto e as informações.
    E o rafinha bastos tenta se passar de mobral mas nun é não. Era só uma ipinião sobre um assunto em voga, relacionado à band, a emissora na qual trabalha, e ele responde dessa maneira, como se fosse um assunto qualquer.

    Não quis comentar porque envolve um judeu como ele, e nas horas erradas os judeus são absurdamente corporativistas que nem as famílias e advogados do diabo!

    Perdi a admiração pelo pessoal do cqc, tô tendo um repúdio deles, o programa é ótimo mas só de pensar que eu tô fazendo minha parte em dar audiência para esses reacionários me á um desconforto. Acho que já tá na hora desse desconforto parar!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas