Renovação da programação da TV Brasil busca atrair público infanto-juvenil
De Jacson Segundo, para o Observatório do Direito à Comunicação:
No ar desde o dia 21 deste mês, a nova programação da TV Brasil reflete o interesse da emissora no público infanto-juvenil. Dos 30 novos programas, pelo menos 10 são voltados para as crianças e 5 para adolescentes e jovens, somando seis horas diárias dedicadas às duas faixas etárias. Além das quatro emissoras próprias da TV Brasil em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão, boa parte das 24 TVs educativas que operam em rede com a emissora estão retransmitindo as novas produções.
O diretor de produção da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Roberto Faustino, foi um dos responsáveis pela escolha dos novos programas. “Buscamos diminuir a faixa etária. Fazer com que mais jovens assistam à TV (Brasil)”, diz. Ele também explica que houve uma preocupação em ofertar alguns conteúdos para crianças de até 4 anos, que, segundo ele, não são bem atendidas pelas TVs comerciais.
A construção da nova linha de produtos da TV também contou com um auxílio científico. Os membros do Conselho Curador da EBC Murilo César Ramos e Lúcia Braga elaboraram um estudo sobre o que existia na grade da TV Brasil e as novidades propostas. Os resultados foram apresentados em reunião do conselho realizada na terça-feira (30 de setembro).
Ramos e Lúcia fizeram uma avaliação positiva do conjunto da programação infantil, já incluindo as novidades apresentadas nas últimas semanas. Uma das inovações apontadas como positivas foi a inclusão de animações para as crianças. “Preencheu-se uma lacuna”, disse o conselheiro, que também é professor de Comunicação da Universidade de Brasília.
Segundo o estudo, a programação infantil da emissora também se qualifica quando não enxerga o público infantil como um futuro consumidor. “Há a ausência do fator consumo”, afirma Ramos. É a primeira vez que o Conselho dedica-se a olhar com mais atenção e precisão uma determinada temática da programação da TV Brasil. A idéia é que isso seja feito mais vezes. Para isso, o Conselho Curador da empresa aprovou a criação de outras comissões temáticas dentro do órgão. Os temas, porém, serão definidos na próxima reunião do Conselho.
Programas
Além do foco infanto-juvenil, Faustino explica que também foi feita uma aposta em privilegiar segmentos, como o feminino. Um dos programas que vem sendo colocado em destaque pela direção da empresa é o “Papo de Mãe”, co-produzido com uma produtora independente. “Num país onde cada vez mais cedo as mulheres vêm tendo filhos, um programa como Papo de Mãe será, decerto, de grande ajuda. O programa semanal terá 48 minutos, divididos em três blocos, com apresentação das jornalistas (e mães) Mariana Kotscho e Roberta Manreza. A série vai reunir jovens mães para abordar problemas e soluções do dia-a-dia com convidados e especialistas”, diz o texto de divulgação da atração.
Outra produção de destaque pretende trazer aos telespectadores brasileiros mais informações sobre o continente africano. A série “Nova África” apresentará ao público 26 programas temáticos. Segundo sua sinopse, ela dará ênfase a alguns povos africanos, especialmente àqueles ligados à origem de nossos ancestrais, como os ioruba da Nigéria e do Benin, os que no Brasil foram chamados de “malês” e alguns povos da língua bantu, aqui chamados de “angolas” e “carabindas”, que chegaram ao país durante os anos de comércio escravagista.
Gerado pela TV Brasil de São Paulo, o programa “Paratodos” promete atrair os jovens, buscando levar à tela semanalmente as expressões da cultura na música, dança, teatro, folclore e até na culinária. No ar desde 25 de setembro, ele tem 28 minutos de duração. “A relação da comida com a cultura brasileira é um dos principais enfoques que será dado pelo programa Paratodos”, descreve a sinopse.
Entre os novos infantis estão “Angelina Bailarina”, as aventuras de uma ratinha que quer ser bailarina; “Poko”, um garoto que descobre o mundo a partir de seu quintal; “Como as Coisas Funcionam”, que vai introduzir as crianças no universo da ciência, e “Barney e Seus Amigos”, as aventuras de um dinossauro que vive com crianças de diversas culturas. Todos estes programas são produções internacionais, disponíveis hoje em canais pagos.
A nova grade inclui, também, produções regionais. A animação infantil “Catalendas” é uma produção da TV Cultura do Pará. Já a Rede Minas contribui com três produções. Segundo Roberto Faustino, há o esforço por parte da empresa para que as emissoras locais produzam mais conteúdos.
Já a programação esportiva segue sem muito destaque na grade da TV Brasil. Entre as estréias, não há nenhum conteúdo do tipo. “Antes precisamos fechar uma política sobre o esporte”, justifica Roberto Faustino.
O diretor afirma que a reforma da programação prosseguirá nos próximos meses. Já em novembro serão apresentadas outras novidades e para março do ano que vem, está prevista uma nova reformulação de fôlego da programação da TV Brasil.
Críticas
O ouvidor da EBC, Laurindo Leal Filho, conta que houve um volume significativo de reclamações sobre a saída de alguns programas. Dois deles, em especial: “Atitude.com” e “Nos Braços da Viola”. Para Laurindo, a renovação dos conteúdos foi importante, mas deveria ter sido feita com mais cuidado pela direção da emissora.
“Houve um esquecimento de que a televisão é hábito. É preciso que as modificações sejam gradativas e fartamente anunciadas ao público”, critica o ouvidor. Laurindo entende que a nova programação foi construída sob uma lógica comercial, em que se inserem os programas para depois ver a aceitação do mercado.
O diretor de produção da empresa, porém, acredita que a nova programação incorpora o espírito público da EBC. “Existem programas que uma TV comercial jamais colocaria no ar, como o ‘Ciência Nua e Crua’ e o ‘Catalendas’, uma animação regional”, contra-argumenta Faustino.
Ouvidoria
Outra questão que gerou críticas de membros do Conselho Curador em relação à nova programação foi a ausência de um programa destinado à Ouvidoria da EBC, previsto na lei que cria a empresa. Segundo norma interna, esse programa deveria oferecer mecanismos para debate público acerca de temas de relevância nacional e internacional a respeito da mídia e do jornalismo, contribuindo para desenvolver a consciência crítica do cidadão.
A proposta do ouvidor, Laurindo Leal, é transformar um bloco de seu atual programa, o “Ver TV”, em um espaço para responder questões (dúvidas, reclamações, sugestões) enviadas pelos telespectadores. No entanto, ele reclama da falta de condições dadas pela direção da empresa para que o espaço se efetive. “Até agora não tivemos recursos necessários para viabilizá-lo”, disse. Os conselheiros não apontaram solução para este impasse.
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