Especial: O SBT e a crise do Grupo Silvio Santos
Desde quando foi anunciado o rombo no banco Panamericano, braço financeiro do Grupo Silvio Santos, perdi a conta de quantos textos li associando o fato a um fim anunciado do SBT. De repente, parecia que qualquer notícia confirmava a falência iminente: "Vai mudar a programação? É desespero!". "Vai continuar investindo em novos programas, gravando pilotos? É só por enquanto, porque 'nos corredores' especula-se sobre demissões, diminuição de salários, venda etc.". A poeira começou a baixar, mas ficou faltado, com raras exceções - o artigo da Laura Mattos que repeti em outro post é uma dessas exceções - explicações mais aprofundadas sobre a crise do banco e o qual o "risco" real do SBT na história.
O portal G1 publicou um quadro resumindo a inconsistência contábil do banco Panamericano e as condições do empréstimo:
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O ROMBO DO PANAMERICANO
As "carteiras de ativos que já haviam sido vendidas" foram bem explicadas em reportagem do R7:
Segundo o R7, a principal hipótese para o rombo "é uma suposta fraude nos resultados da empresa para melhorar os bônus que os executivos recebem no fim do ano". Na ocasião, especialistas apresentaram outras hipóteses ao portal, mas ainda não foi confirmado o que fez com que os balanços do banco chegassem a valores tão divergentes.
A INJEÇÃO DE RECURSOS
A maior parte dos R$ 2,5 bilhões vai ser usada para garantir o funcionamento do banco com a mesma estrutura e sem perdas para os depositantes (clientes) e acionistas minoritários, atitude justamente elogiada por muita gente, de Ricardo Kotscho a Zé Celso Martinez Corrêa.
Na reportagem do G1, o diretor de fiscalização do Banco Central, Alvir Hoffmann, afirmou que, se o banco fosse liquidado, "ficaria com o patrimônio negativo de R$ 900 milhões. Como o compromisso do controlador foi absorver todas essas inconsistências, ele fez essa operação de R$ 2,5 bi e colocou esse dinheiro à disposição para que fosse limpado o balanço do banco". Isso explica o comunicado veiculado pelo SBT desde as primeiras notícias sobre a crise:
Obs.: O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é mantido pelas próprias instituições financeiras, e não pelo governo. Ainda tem gente dizendo por aí que o governo comprou parte do Panamericano (através da Caixa) e ainda emprestou dinheiro para cobrir a diferença contábil do banco.
AS CONDIÇÕES DE PAGAMENTO DA DÍVIDA
O valor total injetado pelo FGC (R$ 2,5 bilhões) é mesmo menor que o valor de mercado das empresas oferecidas como garantia, mas não tão menor: o patrimônio total da Silvio Santos Participações (incluindo Jequiti, SBT, Baú etc.) é de R$ 2,7 bilhões, segundo reportagens do AdNews e Rede Brasil Atual.
De acordo com o quadro do G1, são dez anos para quitar o empréstimo e três para começar a pagar. Em valores atuais, o Grupo Silvio Santos teria que desembolsar R$ 250 milhões por ano, ou mais de R$ 20 milhões por mês - praticamente um prêmio máximo do "Topa ou Não Topa" por dia útil, sem patrocínio, venda de revistinhas, cosméticos ou qualquer contrapartida.
Os números assustam, mas continuo sem acreditar no caos que muita gente pinta. Como a dívida não tem juros, o pagamento pode ser planejado com mais precisão e com menos risco de "sustos". Além do mais, Silvio Santos tem três anos para reorganizar a estrutura de suas empresas, de modo que, somadas, todas tenham um aumento de liquidez suficiente para bancar a parcela da dívida. Uma tarefa difícil, mas não impossível, principalmente se apostarmos que as empresas do grupo podem não ser nenhum exemplo de aministração.
Existe ainda a opção de se desfazer de empresas. O atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que "é plausível pensar" que Silvio Santos possa vender o controle do Panamericano (que não quebrou) para saldar a dívida com o FGC, e até Silvio Santos admitiu, em entrevista à Veja, que não tem "interesse especial em bancos ou indústrias de cosméticos".
Algumas das empresas que compõem o Grupo Silvio Santos
E O SBT?
Na mesma edição da Veja, Silvio Santos foi questionado se venderia a emissora: "A televisão não vendo. Vou fazer de tudo para não vender (...) Posso vender empresas e ficar com a televisão, que penso em deixar para minhas filhas que se interessam por comunicações. Uma delas, a Daniela, já mostrou que gosta de televisão". Foi preciso essa declaração para acalmar o ânimo da mídia e deixar o pessoal que especula sobre o fim do SBT como exceção, mas foi falado de tudo!
Primeiro, Eike Batista foi questionado, do nada, se compraria. Disse um "sei lá" pomposo, desmentido em seu Twitter por causa do barulho que a declaração criou. Depois, Monica Bergamo conversou com Silvio Santos por telefone e perguntou se ele venderia o SBT ao milionário. Silvio fez graça perguntando se "Eique" era americano, ofereceu comissão para a jornalista ajudar a vender a emissora e ainda pediu uma foto "bem bonita" no jornal. Engraçado foi ver como a ironia de Silvio Santos foi ignorada para manter o sensacionalismo sobre a venda/quebra do SBT.
É claro que Silvio só "acalmou" a opinião pública na Veja porque, com uma dívida de R$ 2,5 bilhões, vender a TV ou qualquer outra empresa não seria impossível. Mas o SBT continua sendo o SBT, com seus altos e baixos. A audiência continua cada vez mais ameaçada até pela Band, mas o faturamento publicitário aumentou 15% em 2010.
O problema é que, mais do que nunca, o SBT não pode ser o SBT "com seus altos e baixos". Por mais que seja a menina dos olhos do patrão, não dá para esperar que todas as outras empresas sejam reestruturadas para pagar essa dívida e o SBT continue assistindo de camarote a concorrência ser mais inovadora ou competente. Os pastores já sinalizaram que estão aí para arrumar aquele dinheiro rápido que atestaria de vez a decadência da TV mais feliz do Brasil, mas o SBT ainda tem tempo para incrementar o caixa com os frutos de uma programação bem estruturada ou mesmo de baixo custo.
DEPOIS DA TEMPESTADE...
Se a poeira baixou no que diz respeito à venda do SBT, agora é hora de começarem as notícias reais sobre as mudanças que a emissora vai promover na briga por audiência. Na próxima segunda estreia a nova programação noturna, com a volta do "Programa do Ratinho" ao horário nobre e o aumento de tempo do "Boletim de Ocorrências", que ficou com César Filho, depois de Roberto Cabrini recusar e Luiz Bacci ser contratado pela Record da noite para o dia.
José Armando Vanucci atentou para a possibilidade da Record tentar enfraquecer o SBT com contratações "predatórias", e há quem diga que o SBT pode preparar um contra-ataque, como aconteceu no ano passado. Mais do que isso, o que SBT precisa se preocupar é em não deixar que sua crebilidade seja abalada pela situação financeira do Grupo Silvio Santos.
Para o telespectador, resta torcer para que todas as emissoras, e não só o SBT, continuem crescendo. De preferência sem que uma seja predadora da outra e com todas levando em conta que, mesmo em momentos de crise, o faturamento deve ser consequência do conteúdo, e não o contrário.
UPDATE (31/01/2011): Foi anunciada a venda do Banco Panamericano para o BTG Pactual por R$ 450 milhões, uma semana depois de alguns jornais publicarem que a nova diretoria do Panamericano teria descoberto que o rombo contábil era de, aproximadamente, R$ 4 bilhões, e não de R$ 2,5 bilhões.
De acordo com reportagem do Estadão, o dinheiro obtido com a venda do Panamericano "foi usado por Silvio para liquidar a dívida de R$ 4 bilhões que ele contraiu com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC)", sendo o restante "absorvido pelo FGC, em nome da preservação do sistema financeiro nacional". Leia a matéria completa
O portal G1 publicou um quadro resumindo a inconsistência contábil do banco Panamericano e as condições do empréstimo:
O ROMBO DO PANAMERICANO
As "carteiras de ativos que já haviam sido vendidas" foram bem explicadas em reportagem do R7:
Imagine um pacote de empréstimos que vale R$ 10, mas que será devolvido em R$ 1 por ano, ou seja, nos próximos dez anos. Para ter o dinheiro já, o banco vende tudo por R$ 5 agora, embolsa esse dinheiro e quem comprou assume o risco de os outros R$ 5 serem pagos.
O que ocorreu foi que parte dessas carteiras, mesmo já repassada adiante, continuava entre os ativos do banco, sendo considerada como "pronta para ser vendida". Mas, na verdade, ela não pertencia mais ao banco.
Segundo o R7, a principal hipótese para o rombo "é uma suposta fraude nos resultados da empresa para melhorar os bônus que os executivos recebem no fim do ano". Na ocasião, especialistas apresentaram outras hipóteses ao portal, mas ainda não foi confirmado o que fez com que os balanços do banco chegassem a valores tão divergentes.
A INJEÇÃO DE RECURSOS
A maior parte dos R$ 2,5 bilhões vai ser usada para garantir o funcionamento do banco com a mesma estrutura e sem perdas para os depositantes (clientes) e acionistas minoritários, atitude justamente elogiada por muita gente, de Ricardo Kotscho a Zé Celso Martinez Corrêa.
Na reportagem do G1, o diretor de fiscalização do Banco Central, Alvir Hoffmann, afirmou que, se o banco fosse liquidado, "ficaria com o patrimônio negativo de R$ 900 milhões. Como o compromisso do controlador foi absorver todas essas inconsistências, ele fez essa operação de R$ 2,5 bi e colocou esse dinheiro à disposição para que fosse limpado o balanço do banco". Isso explica o comunicado veiculado pelo SBT desde as primeiras notícias sobre a crise:
Obs.: O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é mantido pelas próprias instituições financeiras, e não pelo governo. Ainda tem gente dizendo por aí que o governo comprou parte do Panamericano (através da Caixa) e ainda emprestou dinheiro para cobrir a diferença contábil do banco.
AS CONDIÇÕES DE PAGAMENTO DA DÍVIDA
O valor total injetado pelo FGC (R$ 2,5 bilhões) é mesmo menor que o valor de mercado das empresas oferecidas como garantia, mas não tão menor: o patrimônio total da Silvio Santos Participações (incluindo Jequiti, SBT, Baú etc.) é de R$ 2,7 bilhões, segundo reportagens do AdNews e Rede Brasil Atual.
De acordo com o quadro do G1, são dez anos para quitar o empréstimo e três para começar a pagar. Em valores atuais, o Grupo Silvio Santos teria que desembolsar R$ 250 milhões por ano, ou mais de R$ 20 milhões por mês - praticamente um prêmio máximo do "Topa ou Não Topa" por dia útil, sem patrocínio, venda de revistinhas, cosméticos ou qualquer contrapartida.
Os números assustam, mas continuo sem acreditar no caos que muita gente pinta. Como a dívida não tem juros, o pagamento pode ser planejado com mais precisão e com menos risco de "sustos". Além do mais, Silvio Santos tem três anos para reorganizar a estrutura de suas empresas, de modo que, somadas, todas tenham um aumento de liquidez suficiente para bancar a parcela da dívida. Uma tarefa difícil, mas não impossível, principalmente se apostarmos que as empresas do grupo podem não ser nenhum exemplo de aministração.
Existe ainda a opção de se desfazer de empresas. O atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que "é plausível pensar" que Silvio Santos possa vender o controle do Panamericano (que não quebrou) para saldar a dívida com o FGC, e até Silvio Santos admitiu, em entrevista à Veja, que não tem "interesse especial em bancos ou indústrias de cosméticos".
E O SBT?
Na mesma edição da Veja, Silvio Santos foi questionado se venderia a emissora: "A televisão não vendo. Vou fazer de tudo para não vender (...) Posso vender empresas e ficar com a televisão, que penso em deixar para minhas filhas que se interessam por comunicações. Uma delas, a Daniela, já mostrou que gosta de televisão". Foi preciso essa declaração para acalmar o ânimo da mídia e deixar o pessoal que especula sobre o fim do SBT como exceção, mas foi falado de tudo!
Primeiro, Eike Batista foi questionado, do nada, se compraria. Disse um "sei lá" pomposo, desmentido em seu Twitter por causa do barulho que a declaração criou. Depois, Monica Bergamo conversou com Silvio Santos por telefone e perguntou se ele venderia o SBT ao milionário. Silvio fez graça perguntando se "Eique" era americano, ofereceu comissão para a jornalista ajudar a vender a emissora e ainda pediu uma foto "bem bonita" no jornal. Engraçado foi ver como a ironia de Silvio Santos foi ignorada para manter o sensacionalismo sobre a venda/quebra do SBT.
É claro que Silvio só "acalmou" a opinião pública na Veja porque, com uma dívida de R$ 2,5 bilhões, vender a TV ou qualquer outra empresa não seria impossível. Mas o SBT continua sendo o SBT, com seus altos e baixos. A audiência continua cada vez mais ameaçada até pela Band, mas o faturamento publicitário aumentou 15% em 2010.
O problema é que, mais do que nunca, o SBT não pode ser o SBT "com seus altos e baixos". Por mais que seja a menina dos olhos do patrão, não dá para esperar que todas as outras empresas sejam reestruturadas para pagar essa dívida e o SBT continue assistindo de camarote a concorrência ser mais inovadora ou competente. Os pastores já sinalizaram que estão aí para arrumar aquele dinheiro rápido que atestaria de vez a decadência da TV mais feliz do Brasil, mas o SBT ainda tem tempo para incrementar o caixa com os frutos de uma programação bem estruturada ou mesmo de baixo custo.
DEPOIS DA TEMPESTADE...
Se a poeira baixou no que diz respeito à venda do SBT, agora é hora de começarem as notícias reais sobre as mudanças que a emissora vai promover na briga por audiência. Na próxima segunda estreia a nova programação noturna, com a volta do "Programa do Ratinho" ao horário nobre e o aumento de tempo do "Boletim de Ocorrências", que ficou com César Filho, depois de Roberto Cabrini recusar e Luiz Bacci ser contratado pela Record da noite para o dia.
José Armando Vanucci atentou para a possibilidade da Record tentar enfraquecer o SBT com contratações "predatórias", e há quem diga que o SBT pode preparar um contra-ataque, como aconteceu no ano passado. Mais do que isso, o que SBT precisa se preocupar é em não deixar que sua crebilidade seja abalada pela situação financeira do Grupo Silvio Santos.
Para o telespectador, resta torcer para que todas as emissoras, e não só o SBT, continuem crescendo. De preferência sem que uma seja predadora da outra e com todas levando em conta que, mesmo em momentos de crise, o faturamento deve ser consequência do conteúdo, e não o contrário.
UPDATE (31/01/2011): Foi anunciada a venda do Banco Panamericano para o BTG Pactual por R$ 450 milhões, uma semana depois de alguns jornais publicarem que a nova diretoria do Panamericano teria descoberto que o rombo contábil era de, aproximadamente, R$ 4 bilhões, e não de R$ 2,5 bilhões.
De acordo com reportagem do Estadão, o dinheiro obtido com a venda do Panamericano "foi usado por Silvio para liquidar a dívida de R$ 4 bilhões que ele contraiu com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC)", sendo o restante "absorvido pelo FGC, em nome da preservação do sistema financeiro nacional". Leia a matéria completa
Olá parabéns pelo blog estou fazendo uma pesquisa sobre o Silvio Santos e seu blog foi de extrema importância para a minha pesquisa.
ResponderExcluirvisite meu blog se puder: informativofolhetimcultural.blogspot.com