A análise tosca de Bia Abramo
O caderno Ilustrada da Folha deste domingo (11) trouxe um artigo de Bia Abramo sobre os programas de culinária e gastronomia na TV que classifica, no primeiro parágrafo, Palmirinha Onofre como "tosca". Vou repetir o trecho:
O artigo, a partir daí, fala sobre os programas de gastronomia que, segundo Bia Abramo, ocuparam o espaço dos programas de culinária.
Outro dia, num feriado ou outro dia útil em que a gente tem a sorte de ficar em casa, passei pela Gazeta durante o "TV Culinária" e ouvi Palmirinha divagando sobre sua infância. Lembrou da mãe, do sítio onde morava, do fogão de lenha... enfim, de imagens e histórias similares às histórias que a maioria dos brasileiros já deve ter ouvido de uma avó, mãe ou parente de mais idade. O que mais me chamou a atenção foi a absoluta naturalidade com que Palmirinha falava na televisão, como se aquele cenário fosse a cozinha da sua casa e como se as câmeras fossem as "amiguinha" com quem tanto conversa durante o programa.
Estou fazendo um curso que, entre outros assuntos, trata de retórica. Na última aula, o professor disse que a natureza humana é perfeita e que uma pessoa só tem dificuldade em se expressar quando não deixa a natureza agir; quando não deixa as informações seguirem seu "fluxo contínuo". Ele usou o exemplo do Silvio Santos, que se sente tão à vontade no palco que fica impossível passar pelo SBT numa noite de domingo sem parar, nem que seja por um minuto, para vê-lo interagir com seus convidados ou colegas de trabalho - gostando ou não do homem do Baú.
Não quero comparar aqui Palmirinha Onofre com Silvio Santos, mas digo que uma coisa os dois têm em comum: uma intimidade com a câmera que faz o telespectador ignorar toda a parafernalha de um programa de televisão e enxergar só a pessoa que está falando, como se a mensagem transmitida fosse direcionada exclusivamente a ele. Comigo, pelo menos, é assim!
Sabe o que eu acho tosco? Tosco é focar na simplicidade das receitas, nos erros que acontecem em qualquer cozinha ou nos "s" engolidos e não perceber que existe uma empatia forte entre Palmirinha e seu público criada sem o uso de fórmulas, teorias ou formatos previamente testados. Tosco é desvalorizar essa televisão, quase extinta, feita de pessoas para pessoas. E tosco é, também, não reconhecer a adequação de um programa de culinária despretensioso na programação da tarde de uma TV aberta.
Faltou sensibilidade e profundidade na análise de Bia Abramo.
"Os programas de TV sobre comida superaram a fase da culinária doméstica, nos quais mostrava-se um passo a passo para donas de casa sem tempo ou imaginação para variar o trivial. É claro, ainda há resquícios disso em várias roupagens: da pseudossofisticação gulosa de Ana Maria Braga à tosqueira involuntariamente cômica de Palmirinha."
O artigo, a partir daí, fala sobre os programas de gastronomia que, segundo Bia Abramo, ocuparam o espaço dos programas de culinária.
Outro dia, num feriado ou outro dia útil em que a gente tem a sorte de ficar em casa, passei pela Gazeta durante o "TV Culinária" e ouvi Palmirinha divagando sobre sua infância. Lembrou da mãe, do sítio onde morava, do fogão de lenha... enfim, de imagens e histórias similares às histórias que a maioria dos brasileiros já deve ter ouvido de uma avó, mãe ou parente de mais idade. O que mais me chamou a atenção foi a absoluta naturalidade com que Palmirinha falava na televisão, como se aquele cenário fosse a cozinha da sua casa e como se as câmeras fossem as "amiguinha" com quem tanto conversa durante o programa.
Estou fazendo um curso que, entre outros assuntos, trata de retórica. Na última aula, o professor disse que a natureza humana é perfeita e que uma pessoa só tem dificuldade em se expressar quando não deixa a natureza agir; quando não deixa as informações seguirem seu "fluxo contínuo". Ele usou o exemplo do Silvio Santos, que se sente tão à vontade no palco que fica impossível passar pelo SBT numa noite de domingo sem parar, nem que seja por um minuto, para vê-lo interagir com seus convidados ou colegas de trabalho - gostando ou não do homem do Baú.
Não quero comparar aqui Palmirinha Onofre com Silvio Santos, mas digo que uma coisa os dois têm em comum: uma intimidade com a câmera que faz o telespectador ignorar toda a parafernalha de um programa de televisão e enxergar só a pessoa que está falando, como se a mensagem transmitida fosse direcionada exclusivamente a ele. Comigo, pelo menos, é assim!
Sabe o que eu acho tosco? Tosco é focar na simplicidade das receitas, nos erros que acontecem em qualquer cozinha ou nos "s" engolidos e não perceber que existe uma empatia forte entre Palmirinha e seu público criada sem o uso de fórmulas, teorias ou formatos previamente testados. Tosco é desvalorizar essa televisão, quase extinta, feita de pessoas para pessoas. E tosco é, também, não reconhecer a adequação de um programa de culinária despretensioso na programação da tarde de uma TV aberta.
Faltou sensibilidade e profundidade na análise de Bia Abramo.
Ótimo texto! Só não enxerga direito a Palmirinha quem não tem noção (ou não quer aceitar) os valores mais básicos de uma população.
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