Raridade: veja o dono da RedeTV!, em 1999, se responsabilizando pelas dívidas trabalhistas da Rede Manchete
O radialista Rafael Dutra Caus, membro da comunidade sobre a Rede Manchete no Orkut, digitalizou e disponibilizou no YouTube, nesta quinta-feira, uma gravação do programa "Show Business" exibido em maio de 1999, onde João Dória Jr. e Denise Campos de Toledo entrevistam Amilcare Dallevo Jr., o novo dono da emissora.
Dallevo conta os planos para a nova emissora, que ainda não tinha nome definido, mas já não usava mais a marca "Manchete", e se compromete a quitar as dívidas trabalhistas da antiga TV.
PARTE 1
PARTE 2
Entenda a confusa transição entre Manchete e RedeTV!
AMILCARE E A MANCHETE DOS BLOCH
O grupo TeleTV, de Amilcare Dallevo Jr., era responsável pelos sistemas de telefonia em programas interativos como "Você Decide" (Rede Globo) e cresceu nos anos 90 com a popularização dos sorteios pelos telefones 0900, que foram exaustivamente usados pela maioria das emissoras, incluindo a Rede Manchete, até sua proibição em 1998.
Além da TeleTV, o grupo tinha uma empresa de tecnologia (TecNet) e uma produtora independente, a Ômega Produções, que produziu para a Manchete entre 1997 e 1998 os programas "Domingo Milionário" e "Domingo Total", um pouco antes da proibição do lucrativo sistema de sorteio.
A Manchete mergulhou mais fundo em sua última crise logo depois disso, devido ao baixo retorno financeiro das transmissões da Copa de 98, ao fracasso de "Brida" e a outros problemas de ordem macroeconômica. Terminou 1998 com programas extintos, greves e um esvaziamento da programação como nunca havia se visto.
O ANO DA VENDA
Depois de uma tentativa mal sucedida de arrendamento para a Fundação Renascer no começo de 1999, a Rede Manchete foi posta a venda, até porque tinha as cinco concessões próprias vencidas desde 1996 e, caso não resolvesse sua situação financeira até maio do mesmo ano, sairia do ar.
As primeiras informações divulgadas pela Bloch sobre a compra da Manchete pelo Grupo TeleTV davam conta de que a produtora "se tornaria responsável pelo passivo da emissora" e que "o pagamento dos salários atrasados seria prioritário no contrato", conforme publicado em matéria da Folha de São Paulo de 13/03/1999 (disponível no site Tele História).
As negociações chegaram a ter acompanhamento pessoal do então ministro das comunicações Pimenta da Veiga, e toda informação publicada confirmava os primeiros comunicados da Bloch. Logo após a venda, por exemplo, a revista Veja publicou matéria na qual Amilcare Dallevo Jr. se comprometia a assumir o total das dívidas da Manchete, estimadas na época em R$ 329 milhões.
Até aí, tudo bem. O problema é que a transação real acabou sendo diferente da inicialmente divulgada.
O NEGÓCIO
A transferência da Rede Manchete para a TV Ômega foi uma operação, no mínimo, esquisita. A pessoa jurídica da TV Manchete Ltda. foi dividida em duas partes: as concessões e tudo o que era necessário para a continuidade da operação imediata da TV ficaram com a TV Ômega; as dívidas, equipamentos, marca e arquivo (o patrimônio e a "parte podre") foram para uma empresa chamada Hesed Participações, do empresário Fábio Saboya Salles Júnior, que pretendia vender o patrimônio da emissora, pagar as dívidas e ainda ter lucro no final, conforme publicado na coluna do Daniel Castro de 25/12/1999, também disponível no Tele História.
Curiosamente, a Hesed Participações alegou, meses depois da compra, que não tinha condições de assumir as dívidas da TV Manchete, e declarou falência. E a TV Ômega, que comprou a emissora nessa estranha sociedade, mas que em maio estava toda disposta a pagar as dívidas trabalhistas, passou a responsabilizar a Hesed sobre todos os débitos da Manchete. Para completar a dúvida, o site Rede Manchete - Uma História de Sucesso diz que a Bloch Editores publicou na Revista Manchete em maio de 1999 que havia se comprometido a ser fiadora da Hesed na venda da TV.
Com a declaração da Hesed de que não poderia honrar as dívidas da TV, a editora, que já não ia bem das pernas, pediu concordata e processou Amilcare Dallevo, dono da TV Ômega, para que os débitos fossem repassados à sua empresa, que era a sócia da Hesed na compra da emissora.
Aí começou a bagunça: a Bloch faliu, os prédios foram lacrados e ninguém pagou ninguém!
Dallevo conta os planos para a nova emissora, que ainda não tinha nome definido, mas já não usava mais a marca "Manchete", e se compromete a quitar as dívidas trabalhistas da antiga TV.
PARTE 1
PARTE 2
Entenda a confusa transição entre Manchete e RedeTV!
AMILCARE E A MANCHETE DOS BLOCH
O grupo TeleTV, de Amilcare Dallevo Jr., era responsável pelos sistemas de telefonia em programas interativos como "Você Decide" (Rede Globo) e cresceu nos anos 90 com a popularização dos sorteios pelos telefones 0900, que foram exaustivamente usados pela maioria das emissoras, incluindo a Rede Manchete, até sua proibição em 1998.
Além da TeleTV, o grupo tinha uma empresa de tecnologia (TecNet) e uma produtora independente, a Ômega Produções, que produziu para a Manchete entre 1997 e 1998 os programas "Domingo Milionário" e "Domingo Total", um pouco antes da proibição do lucrativo sistema de sorteio.
A Manchete mergulhou mais fundo em sua última crise logo depois disso, devido ao baixo retorno financeiro das transmissões da Copa de 98, ao fracasso de "Brida" e a outros problemas de ordem macroeconômica. Terminou 1998 com programas extintos, greves e um esvaziamento da programação como nunca havia se visto.
O ANO DA VENDA
Depois de uma tentativa mal sucedida de arrendamento para a Fundação Renascer no começo de 1999, a Rede Manchete foi posta a venda, até porque tinha as cinco concessões próprias vencidas desde 1996 e, caso não resolvesse sua situação financeira até maio do mesmo ano, sairia do ar.
As primeiras informações divulgadas pela Bloch sobre a compra da Manchete pelo Grupo TeleTV davam conta de que a produtora "se tornaria responsável pelo passivo da emissora" e que "o pagamento dos salários atrasados seria prioritário no contrato", conforme publicado em matéria da Folha de São Paulo de 13/03/1999 (disponível no site Tele História).
As negociações chegaram a ter acompanhamento pessoal do então ministro das comunicações Pimenta da Veiga, e toda informação publicada confirmava os primeiros comunicados da Bloch. Logo após a venda, por exemplo, a revista Veja publicou matéria na qual Amilcare Dallevo Jr. se comprometia a assumir o total das dívidas da Manchete, estimadas na época em R$ 329 milhões.
Até aí, tudo bem. O problema é que a transação real acabou sendo diferente da inicialmente divulgada.
O NEGÓCIO
A transferência da Rede Manchete para a TV Ômega foi uma operação, no mínimo, esquisita. A pessoa jurídica da TV Manchete Ltda. foi dividida em duas partes: as concessões e tudo o que era necessário para a continuidade da operação imediata da TV ficaram com a TV Ômega; as dívidas, equipamentos, marca e arquivo (o patrimônio e a "parte podre") foram para uma empresa chamada Hesed Participações, do empresário Fábio Saboya Salles Júnior, que pretendia vender o patrimônio da emissora, pagar as dívidas e ainda ter lucro no final, conforme publicado na coluna do Daniel Castro de 25/12/1999, também disponível no Tele História.
Curiosamente, a Hesed Participações alegou, meses depois da compra, que não tinha condições de assumir as dívidas da TV Manchete, e declarou falência. E a TV Ômega, que comprou a emissora nessa estranha sociedade, mas que em maio estava toda disposta a pagar as dívidas trabalhistas, passou a responsabilizar a Hesed sobre todos os débitos da Manchete. Para completar a dúvida, o site Rede Manchete - Uma História de Sucesso diz que a Bloch Editores publicou na Revista Manchete em maio de 1999 que havia se comprometido a ser fiadora da Hesed na venda da TV.
Com a declaração da Hesed de que não poderia honrar as dívidas da TV, a editora, que já não ia bem das pernas, pediu concordata e processou Amilcare Dallevo, dono da TV Ômega, para que os débitos fossem repassados à sua empresa, que era a sócia da Hesed na compra da emissora.
Aí começou a bagunça: a Bloch faliu, os prédios foram lacrados e ninguém pagou ninguém!
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