Barganhas televisivas

Editorial publicado na edição de hoje da Folha de S.Paulo:

O governo Dilma Rousseff tem anunciado a intenção de promover reforma no primitivo processo de concessão de rádios e TVs no país. Deu um primeiro passo nessa direção, acanhado, ao anunciar novos critérios para a outorga de canais educativos.

Há décadas um modelo distorcido de distribuição de concessões, usadas como moeda de troca fisiológica, tem conferido a políticos e grupos privados o controle de meios de comunicação não raro usados como canais de propaganda e autopromoção.

O sistema confere, assim, vantagens indevidas no processo eleitoral e desrespeita o princípio de pluralidade. A Constituição determina que "os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio".

Uma medida para diminuir o arbítrio do governo na escolha dos beneficiados havia sido adotada em 1997, quando concessões de rádios e TVs comerciais passaram a ser vendidas em licitações públicas. Desde então, emissoras educativas se valorizaram como moeda de barganha política, por serem gratuitas e distribuídas pelo Ministério das Comunicações.

Até o presente, não havia regras claras para a seleção dos interessados nas emissoras ditas educativas. Agora, com as normas administrativas divulgadas pela pasta das Comunicações, universidades, Estados e municípios terão prioridade na escolha.

Os estudos de viabilidade dos canais, antes entregues pelos próprios candidatos a concessões, serão doravante feitos pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que divulgará em editais as emissoras a serem pleiteadas. O Estado põe termo, assim, à inexplicável inversão de papéis.

Restam, contudo, distorções na distribuição de canais comerciais, que concentram a audiência e a receita publicitária do setor. Regras frouxas de comprovação da capacidade financeira de interessados têm permitido o uso de "laranjas" nos processos de licitação. Os verdadeiros donos das emissoras são, em geral, especuladores, igrejas e políticos.

O Ministério das Comunicações apresentou uma proposta que se encontra em análise na Casa Civil. Ela prevê aumentar o valor da caução para participar da concorrência, de 1% para 20% do valor do negócio, um meio de atestar a capacidade financeira do candidato. O pagamento teria de ser feito à vista (hoje o prazo é de um ano).

O governo federal deveria confirmar o mais rápido possível essa medida administrativa, anunciada há mais de um mês. Também fica devendo uma auditoria ampla nos documentos de propriedade das emissoras já concedidas.

Comentários

  1. O governo deveria tomar atitudes mais drásticas em relação ao uso privado de um bem público, como é o caso do espectro... empresas "terceirizam" o que não é dela de fato, e ninguém fala nada. Enquanto isso as rádios comunitárias são ferozmente combatidas.

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  2. Não só as rádios "comunitárias", piratas e evangélicas que proliferaram mais que erva daninha, agora é a vez das nossas crianças, crianças essas aqui da região do litoral, que perderam suas sessões de desenhos, por programas evangélicos na TV aberta. Um dos canais o SBT que tem um bom programas para as crianças pela parte da manha, foi dominados por exorcismos e picaretagens a mais. Tudo isso com um propósito, encher o bolso desses empresários sem carater, hipócritas, que se dizem estar passando por problemas financeiros, achando por bem alugar seus horários para essa turma de lavadores cerebrais. Acho que está na hora do governo dar um basta. Que tal cassar a concessão que lhe foi outorgada?

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