A criação do "tesão" da Transamérica

Pesquisando outra coisa no acervo da Folha, encontrei um anúncio da rádio Transamérica com a marca utilizada antes do "tesão" que consagrou a emissora.

Só tinha ouvido falar do desenho no blog do Josmar Andrade, num texto que relata a sua versão sobre a criação do "tesão" e que fala um pouco sobre a história daquela Transamérica que marcou época nas décadas de 1980 e 1990.

Com a antiga marca da Transamérica ilustrando, quis reler o artigo, que reproduzo parcialmente aqui:

"Tudo começou com a nomeação de um executivo do Banco Real (o dono da Transamérica é o Aloysio Farias, fundador do banco) para avaliar e quem sabe vender a rede que não dava muito certo em todo país, apesar das excelentes praças nas quais estava presente: Brasília, Salvador, Recife, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Também pudera que não desse certo: a rádio era péssima, gravada, tocando música sem sabor e com locuções sem nenhuma personalidade (música mais velha, do tipo Tony Bennett, mas sem muita liga, brilho ou estilo). Em São Paulo a Transamérica ocupava o 14º lugar, entre 16 (as duas últimas sempre são a USP FM e a Cultura FM). Esse executivo se chamava Calil Bassit e sua maior qualidade era não entender nada de FM. Pois o Calil foi lá e pediu uma oportunidade ao Doutor Aloysio de fazer daquele negócio uma fonte de lucros. Ao recebê-la, o Calil se cercou de gente talentosa e constituiu-se no pilar, na alavanca de construção dessa marca, durante toda sua longa carreira à frente da Rede Transamérica, que chegou a estar presente em mais de 40 praças no Brasil, ao vivo e em tempo real, muito antes da internet.

Pela Transamérica passaram muitos profissionais de qualidade. Serei injusto, com certeza, mas lembro da influência do Marcelo Braga, do Luiz Flavio Guimarães, do Ricardo Henrique, do Acácio Costa, do Fernando Martos, os quais foram se integrando ao time e construindo a magia de uma rádio voltada ao público jovem, escrachada, bem humorada, com uma plástica diferenciada, com muito humor e cara de pau. Um fenômeno, do qual temos muitos ecos por aí no dial em todo o País (um dia volto a este assunto). Cheguei até essa equipe por meio de um dos primeiros coordenadores artísticos da Transamérica, o Luiz Fernando Magliocca, o qual por sua vez tinha conhecido na implantação do projeto da 89 FM, a rádio rock, logo depois de minha saída da Folha. O Magliocca é fera em rádio. E me convidou para ajudar na criação da personalidade dessa rádio jovem que o Calil queria fazer, em termos de comunicação.

Um dos maiores desafios em rádio é dar a personalidade visual para um produto que é só audição. E a logomarca antiga da Transamérica fazia jus à sua programação: era um arco em cinza e preto com pessoas reunidas em torno de um balcão, com algumas notas musicais e o nome escrito embaixo. Ou seja, negava todas as recomendações de uma marca: ter visibilidade, ser fácil de reproduzir (ampliar e reduzir) e de lembrar. O desafio então, era fazer uma logomarca jovem, bem humorada, escrachada e que fornecesse a dimensão visual para uma emissora que queria jantar as concorrentes (no caso e na época a Cidade FM e a Jovem Pan que, me perdoem os aficcionados, sempre tiveram péssimas logomarcas). Esse foi um grande desafio, para o qual desenvolvi mais de 20 alternativas, junto com o Gilberto Yudi. Para fazer a marca de uma rádio jovem, não mirei no que normalmente todo mundo fazia: copiar ou "inspirar-se" em logomarcas de rádios norte-americanas. Para pensar na marca da Transamérica pensei no público jovem, masculino, irreverente. E para isso fiquei pensando em bandas de rock e em logomarcas de loja de surf. Foram pelo menos 10 dias em busca de adesivos em carros, em lojas de shopping centers e muito rabisco. Até que veio a inspiração do "Tesão" como palavra-conceito, com grande força pela associação à sensação do prazer sexual e à primeira letra do nome de uma rádio que tem 12 letras (e na qual era proibido falar muito em "Transa", que o Doutor Aloysio nem o Calil gostavam).


Então fiz assim: cores fortes (amarelo,vermelho e preto). Um quadro em volta pra indicar limite e um padrão de bolinhas repetitivas em preto sobre um fundo amarelo (os gozadores lá do Rio sempre me lembravam que a logomarca tinha parecença com o emplastro Sabiá). Em cima desse padrão de coisas previsíveis, sobrepus um grande "T" em vermelho,com sombra preta, feito a pincel pelo Giba, com a intenção de ser o inesperado, o agressivo, o desafiador do "tesão" de uma rádio que faria história. A tipologia que escolhi era Futura (sem serifa), mas o Calil precisou dar seu toque especial no trabalho (clientes!) e exigiu uma letra serifada (Imperial BT) com a qual se escreveu Transamérica FM, centralizada abaixo. Pelo que consta o seu Aloysio nunca gostou muito da marca (segundo o que me disseram, ele dizia que parecia uma tábua rachada). Mas ele pode ter certeza que a marca caiu em gosto popular e certamente foi um dos adesivos mais reproduzidos na história dos veículos de comunicação no Brasil, gerando uma parte do valor de seu negócio, o qual por sua vez tinha uma excelente programação no ar, consonante com a sua expressão visual.

Leia o texto completo no Blog do Josmar

Fuçando nas edições antigas da Folha, agora em busca de material sobre a Transamérica, encontrei o primeiro anúncio do "tesão":

Anúncio publicado na Folha de S.Paulo em 24 de setembro de 1987. Clique para ampliar em uma nova aba ou janela.


Ouça como um trecho da Transamérica com flashbacks e locuções gravadas, na década de 1980:


Gravação disponível no post "O dial FM de São Paulo de quase 30 anos atrás"


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Uma Transamérica que valia por três

Comentários

  1. Esse é um texto típico de publicitário. Pra dizer a verdade, as rádios nunca tiveram preocupação com logotipos (apenas algumas AM mais jornalísticas e com publicidade em jornais e revistas), daí talvez o ineditismo alardeado. Se bem que ele parece aquele T da TV Tupi.

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  2. Marcos,

    O único T da Tupi que conheço é esse:
    http://4.bp.blogspot.com/_Aa4kstR3N-8/TCNoU5yjsvI/AAAAAAAADZ4/Rcu2a9kJH9o/s400/tupi-ultimo-logotipo.jpg

    Beeem diferente, afinal, a única coisa em comum é o fato de ser um T (por motivos óbvios). Existiu um T de Tupi parecido com o da Transamérica?

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  3. Anônimo (porque motivo?)

    O único T da Tupi que conheço também é esse. E ao vivo, apesar de ter pouca idade na época em que a emissora faliu.

    É difícil agregar conceitos quando o leitor apenas vê um lado da simbologia do texto.
    Quando disse que o T da Transamérica parece com o da TV Tupi, eu quis dizer que sua forma e diagramação tem uma mesma perspectiva pois sugerem leveza e harmonia para uma forma de letra que é um tanto quanto pesada.

    No T da Tupi, as pontas são arredondadas e a base do T é separada da barra horizontal e também é separada no lado esquerdo. E o mais importante é que foi utilizado o conjunto de cores primárias para a composição, talvez pensando-se na possibilidade de o telespectador não ter televisor colorido na época (lembre-se que em 1980 o carro de luxo nacional além do Opala era o Corcel II...) Tudo para dar uma idéia de leveza, movimento e desprendimento.

    Já no T da Transamérica, a leveza é sugerida pelo inacabamento do T, formado por 'pinceladas', dando idéia de originalidade sem preocupação excessiva com formas. Por ser uma rádio jovem, isso caiu bem, pois além da leveza que havia no T da Tupi, o da Transamérica possui essa estética jovem que busca o vanguardismo sem se preocupar muito com o refazer daquilo a que foi proposto.

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  4. Anderson. O canal Abril SD deu sinal de "vida" com "amofamilia", provavelmente concorrente do Pastor Waldomiro.

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  5. Aparece com frequência o logon da tv Cristã no canal SCC/Abril SD.

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  6. legal... não se regulamenta a multiprogramação pra que os canais não sejam locados, mas quem tem concessão pode ficar com canal ocioso ou alugar como pra quem quiser.

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  7. A marca criada pelo Josmar foi revolucionaria no mercado de rádios. Anos depois todas as emissoras foram atrás desta receita.

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  8. O amigo desconhece a verdadeira história do 2° logo da Transamérica. Sua criação acontece no Rio, antes da chegada do Calil, e inicialmente o "barzinho" tinha fundo amarelo que lembrava o verão, a versão cinza foi feita para o inverno e a turma de Sampa gostou e adotou o ano inteiro.

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