Por que a TV Brasil HD não é HD

Quem acompanha a programação da TV Brasil nos canais digitais identificados como "TV Brasil HD" deve ter reparado que, da mesma forma como acontece com a Record News, nenhum programa é efetivamente exibido para a rede em HD.

Já enviei e-mail à emissora perguntando por que programas produzidos em alta definição, como o "Brasilianas.org", são exibidos em SD. O leitor Victor Faria, do blog Papo de Informática, também levantou a questão nos comentários do post "TV Brasil: batendo na mesma tecla", publicado há pouco mais de um mês.

Não recebi a resposta por e-mail, mas a então presidente da EBC Tereza Cruvinel comentou, na entrevista coletiva por ocasião do encerramento de seu mandato, no último dia 31, que a programação é toda em SD porque a EBC ainda está licitando o exibidor em HD para a geradora da rede:

"Você está aí com toda cadeia de produção digitalizada, mas está faltando um equipamento (...) Nós estamos licitando um equipamento chamado exibidor em HD. (...) Torço para que chegue nesse ano. Quando colocar lá no finalzinho, lá na ponta do processo o exibidor em HD, vai fazer uma grande diferença".

A licitação do equipamento é mencionada em vídeo apresentado à imprensa no início da entrevista. Apesar de ser um vídeo institucional que, por sua natureza, ressalta os pontos positivos e passa longe dos desafios atuais, reproduzo aqui e recomendo assistir na íntegra não só pela informação sobre os exibidores HD, mas pela própria prestação de contas, que é - ou deveria ser - de interesse de todos:



Parte da demora em licitar os exibidores HD pode ser explicada pelo rolo que existe entre a EBC e as empresas de telecomunicações por causa da Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (CFRP).

Incluída na MP 398 (que criou a TV pública), a CFRP é proporcional a um desconto no valor já pago pelas empresas ao Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel). O problema é que, mesmo não existindo cobrança adicional, as teles alegam que a CFRP é inconstitucional e que não existe nenhum sentido em empresas de telecomunicações bancarem a radiodifusão pública. E depositam o valor em juízo desde 2009.

Com esse dinheiro bloqueado, ao mesmo tempo em que a EBC continua mais dependente do governo federal do que deveria ser, tem a capacidade de investimentos limitada. E caminha bem mais devagar do que poderia.


Em tempo: é possível que São Paulo tenha os exibidores. O conteúdo local, restrito a boletins jornalísticos à tarde, é gerado em HD. Também já vi edições do "Paratodos" e "Caminhos da Reportagem" em alta definição. Sendo assim, por que não foi priorizada a compra dos exibidores HD para o Rio de Janeiro, que é a cabeça de rede? Fica a pergunta.